Esta sexta-feira (12) é marcada pelo Dia do Empresário da Contabilidade. A data comemorativa foi instituída há apenas oito anos, em março de 2011, por meio da Lei nº 12.387. O Brasil conta, atualmente, com mais de 63,4 mil organizações contábeis, sendo 35,3 mil sociedades, 13,9 mil empresários, 9,2 mil microempreendedores individuais (MEIs) e 5 mil Eireli (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) - alta de quase 10% no total de organizações na comparação com mesmo período do ano passado. Em 3 de janeiro de 2017, havia 57.899 organizações contábeis, conforme dados do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
Em 2018 os empresário têm a leve recuperação da economia como um dos principais pontos a serem comemorados. Cerca de dois anos depois da eclosão da crise econômica no País, em 2017 a retração atingiu em cheio ao setor de serviços que, até então, vinha afetando mais sensivelmente à indústria e o varejo.
Conforme o presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis, Assessoramento, Perícias Informações e Pesquisas do Estado do Rio Grande do Sul (Sescon-RS), Diogo Chamun, a categoria é uma das que apresentaram um "delay" em relação às demais atividades econômicas na hora de deixar claros os reflexos da crise. "Percebo junto aos representados do Sescon que 2017 foi um ano difícil, talvez pior do que os anos que o antecederam, no auge da crise", ressalta Chamun.
Segundo representantes do segmento, os efeitos da crise foram decréscimo na receita de empresas contábeis, perdas de contratos, diminuição de honorários devido à necessidade de renegociação. A expectativa, porém, é que em 2018 a economia retome seu crescimento e, com isso, estimule o mercado das empresas contábeis.
Este é o momento de se preparar para o reaquecimento da economia, mas não de esperar seus efeitos dentro das empresas de braços cruzados. "A gente tem falado muito que o mercado contábil tem que se reinventar para fazer mais e prestar uma assessoria mais próxima do cliente para não depender de serviços burocráticos, por que isso está com os dias contados", afirma o presidente do Sescon-RS.
O diretor político-parlamentar da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis (Fenacon), Valdir Pietrobon, adverte que "os contadores têm de estar mais dentro das empresas, conhecendo melhor seus clientes e intervindo diretamente na gestão". Para o também empresário contábil, os próximos 12 meses não deverão ser de crescimento, mas de estabilidade.
Para Pietrobon, a contabilidade é preponderante para empresas e governo. "As empresas de assessoria contábil são responsáveis pela prestação de serviço a 99% dos negócios do Brasil, que são os principais motores da economia e não contam com uma equipe contábil e tributária própria", enfatiza.
O vice-presidente do Sescon-RS e empresário contábil, José Tadeu Jacoby, lembra que a contabilidade sempre esteve escondida e hoje está começando a aparecer. "Sem dúvida a contabilidade é importante para contribuir com um cenário mais ético, para conferir maior transparência às contas das empresas. Já melhorou muito, mas ainda estamos muito longe de ter o controle que deveria", comenta Jacoby.
Em 2018, é extinto o polêmico imposto sindical obrigatório. A medida integrou a reforma Trabalhista, aprovada em 2017, e atinge entidades representativas dos empregados e patronais. A Fenacon, que buscou outras formas de regular a situação e acabar com os chamados "sindicatos fantasma", teme os efeitos da queda no orçamento das organizações sérias e atuantes.
O receio é que pautas importantes aos profissionais da contabilidade não recebam a atenção necessária devido ao possível enxugamento no corpo técnico de sindicatos. O diretor político-parlamentar da Fenacon, Valdir Pietrobon, afirma que a situação é preocupante. O que haverá, alerta, é a adaptação nas estruturas.
"Defendíamos uma regra de transição para que conseguíssemos nos preparar ao longo deste ano e de 2019. Porém, não houve acordo", recorda Pietrobon. Contudo, "os bons vão ficar e os ruins sim vão acabar", projeta Pietrobon. "Retirar a contribuição obrigatória é uma decisão simplista e errada", sintetiza o presidente do Sescon-RS, Diogo Chamun. Para o dirigente, era preciso uma reforma sindical séria com a separação dos sindicatos inoperantes ou distanciados de suas funções daqueles que atuam de forma comprometida.
É preciso aliar conhecimento técnico à gestão qualificada
Unir conhecimento técnico e capacidade de gestão do negócio parece tarefa difícil. Mas os empresários contábeis têm o desafio de estarem sempre atualizados tanto sobre questões legais e ferramentas para cumprir as obrigações quanto sobre a situação financeira da sua organização e as questões cotidianas. A saída é investir em dois pilares fundamentais para prestar um bom serviço e para a longevidade do serviço contábil: capacitação e tecnologia.
"As organizações têm sempre que priorizar esses dois pontos", indica o presidente do Sescon-RS, Diogo Chamun Porém, segundo o especialista, é preciso aliar esses dois aspectos à medição da qualidade do atendimento e se está proporcional ao investimento. "Não podemos pensar que o diploma completou o processo. Não podemos parar por aí. Na área contábil, temos que aprender, ficar atualizados. A nossa profissão é muito importante desde que nós demos a importância que ela merece", complementa o empresário contábil José Tadeu Jacoby.
Agregar valor ao serviço prestado pode ajudar na conquista e manutenção dos clientes
Ampliar o número de serviços prestados e ir além do mero cumprimento de obrigações acessórias e outras exigências legais são tendências apontadas pelos especialistas para as empresas contábeis em 2018. Os clientes já não buscam apenas um escritório que os ajude a cumprir os prazos estabelecidos pelo Fisco e a preencher tabelas. O mercado cobra, cada vez mais, que a equipe contábil e tributária esteja presente e auxilie na tomada de decisões.
"Não adianta a empresa oferecer apenas um serviço burocrático e legal. Isso vai gerar uma concorrência por preço que acaba no leilão do serviço contábil chegando a patamares impraticáveis", ressalta o presidente do Sescon-RS, Diogo Chamun. Para o empresário contábil e vice-presidente do Sescon-RS, José Tadeu Jacoby, "a profissão vai ter que ficar mais voltada para consultoria, para análise dos dados prestados e documentos, para ajudar o empresário a gerir o negócio e não mais para ficar calculando guia de pagamento". "Estamos em um momento profissional em que o nosso conhecimento somado ao que enfrentamos no passado recente nos deu uma bagagem muito grande para facilitar a vida dos nossos clientes", aponta Jacoby.
Este ano, uma série de obrigações entram em vigor, como o eSocial e o Bloco K - exigências que envolvem diversos setores empresariais e que recaíram sobre os ombros dos contadores. A sugestão de Chamun é que se invista, então, em um serviço mais aprofundado, como gestão financeira e tributária e gestão de recursos humanos (RH).
Ao contrário da crença de que são uma dor de cabeça, as obrigações podem ser oportunidades para as empresas contábeis ampliarem o conhecimento sobre as contratantes e para negociar maiores honorários. Este ponto, diga-se de passagem, é crucial para o crescimento das empresas contábeis. "Não podemos mais estipular preço pela cara do cliente. Temos que utilizar sistemas capazes de medir quanto tempo do escritório é dispendido para cada cliente, quantos funcionários se envolvem, como em qualquer outra empresa", avisa Jacoby.
Uma forma de conseguir ampliar o raio de abrangência dos serviços prestados, aponta Chamun, pode ser o estabelecimento de parcerias estratégicas. "Defendo pessoalmente que o empresário contábil se associe a outras empresas para prestar algum serviço que não tenha a capacidade de prestar sozinha, como, por exemplo na área jurídica", indica.
Fonte: Jornal do Comércio