As medidas que o governo federal deve anunciar nos próximos dias para incentivar a produção industrial, entre elas a mudança do recolhimento do
Imposto de Renda de semanal para mensal, deve ampliar o capital de giro das empresas.
Segundo o conselheiro do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP) , Carlos Eduardo Soares Oliveira Júnior, o resultado prático é a queda dos empréstimos bancários de curto prazo, especialmente das linhas específicas para capital de giro, de conta garantida (o cheque especial das empresas) e de hot money (crédito de curtíssimo prazo).
Em compensação, o economista prevê que os pedidos de crédito de longo prazo, especialmente os voltados para investimentos na produção, vão crescer conforme as empresas perceberem o aumento do seu capital de giro.
"Com o recolhimento mais folgado, a empresa ganha uma estabilidade que a impulsionará a fazer investimentos, necessitando assim de empréstimos de longo prazo", explicou.
Para aumentar o interesse em novos investimentos, o pacote também terá uma medida para reduzir de 60 para 30 meses o prazo para depreciar nos impostos federais o valor de máquinas compradas. Assim se reduz mais a
base de cálculo, fazendo com que a empresa pague menos tributos.
Porém, o "alívio" causado pela mudança no recolhimento no IR pode se transformar numa armadilha para a empresa que faz um bom controle contábil sobre suas atividades.
"No pagamento mensal, uma empresa que não faz um bom controle do seu caixa pode acabar gastando o dinheiro que era para pagar o imposto. Se fizer isso, terá que recorrer a empréstimos e a medida se mostrará inócua", disse Oliveira.
Pedido antigo
Entre os tributaristas e os contabilistas, o alargamento dos prazos de recolhimento de impostos é pedido desde a implantação do Plano Real.
Os prazos foram reduzidos no País conforme a inflação avançava, forçando um recolhimento rápido para que o governo não perdesse arrecadação.
"Porém, com o fim da inflação, isso não foi mais necessário", disse o presidente do Sindicato das Empresas Contábeis de São Paulo (Sescon-SP) , Antonio Marangon. "Desde então, lutamos para a ampliação do prazo, que traz benefícios não só para empresas como à burocracia em geral".
Segundo Marangon, quem mais se beneficiará das medidas são as pequenas empresas, que têm mais dificuldade de ter capital de giro e de conseguir empréstimos com
juros baixos.
"Além disso, as empresas grandes possuem suas próprias estruturas contábeis, enquanto os pequenos recorrem a escritórios. Com menos burocracia, eles gastam menos", afirma.
Marangon chegou a ir a Brasília com um grupo de contadores por três vezes, no ano passado, para pedir o alargamento de prazos de recolhimento de impostos à Receita Federal.
Fonte: DCI