O teletrabalho durante a pandemia foi opção especialmente para a fatia mais próspera e escolarizada da população brasileira, de acordo com a pesquisa TIC Covid, realizada pelo Cetic.br.
Além da falta de dispositivos mais apropriados ao trabalho que um celular, os números divulgados mostram que houve uma barreira financeira: só 16% receberam ajuda para custear as conexões à internet.
Esse percentual de ajuda financeira chegou a 19% no caso dos usuários das classes DE, mas vale lembrar que esse é o grupo com menor presença na atividade remota. Enquanto o teletrabalho foi relatado por 70% dos usuários de internet das classes AB, foi menor na classe C, 49%, e na DE, 37%), “percentuais alinhados com a tendência de digitalização em ocupações de maior remuneração”, segundo o estudo.
Em geral, o apoio fornecido pelos empregadores foi mais significativo em acesso a arquivos em nuvem das empresas (47%), software (37%), suporte técnico (35%) e ainda notebooks ou celulares (35%). Em apenas em 20% dos casos foram fornecidas aplicações de segurança, como antivírus.
“Aliado às limitações que o acesso desigual a dispositivos digitais impõe, é fundamental considerar como as disparidades socioeconômicas entre indivíduos podem representar um aproveitamento menor de funcionalidades oferecidas pelas TIC para o teletrabalho”, apontou o gerente do Cetic.br, Alexandre Barbosa.
Teletrabalho
Com base em um universo estimado em 101 milhões de usuários de internet com mais de 16 anos e entrevistas realizadas entre setembro e outubro, a TIC Covid calcula que cerca de 23 milhões de pessoas adotaram o teletrabalho, ainda que parcialmente, desde o início da crise de saúde.
“O perfil predominante foi o de trabalhadores com ensino superior, os pertencentes às classes AB e os com 60 anos ou mais. O teletrabalho esteve mais presente entre os funcionários públicos e entre trabalhadores da educação, da administração pública e de atividades profissionais, científicas e técnicas”, diz a pesquisa.
Assim, enquanto em 2019 a maioria das pessoas que trabalhava em casa eram informais e com baixa remuneração, em 2020 passaram a ser principalmente profissionais com ensino superior, professores, gerentes, administradores e trabalhadores de escritório.
“No Brasil, a transição rápida para o home office, contudo, enfrentou dificuldades já conhecidas por estudos no campo da inclusão digital. A falta de conexão à Internet domiciliar, a indisponibilidade de dispositivos adequados e limitações quanto às habilidades digitais restringem o alcance da digitalização do mundo profissional para grande parte da força de trabalho ocupada”, conclui a pesquisa.