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Trabalho remoto

Pandemia: home office não é realidade da maioria dos profissionais brasileiros

Com a segunda onda de Covid-19 no Brasil, a tendência é que as oportunidades nas profissões necessariamente presenciais sigam mais raras.

23/03/2021 11:00:01

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Pandemia: home office não é realidade da maioria dos profissionais brasileiros

Pandemia: home office não é realidade da maioria dos profissionais brasileiros

Em 2020, devido à pandemia do novo coronavírus, o trabalho remoto se tornou obrigatório e a opção mais segura para diversos segmentos profissionais continuarem a atuar. Mas uma reportagem feita pelo Estadão Conteúdo mostrou que essa realidade passa longe da grande maioria dos trabalhadores brasileiros. 

Um grande grupo não pode trabalhar de casa e encontra mais dificuldade para se recolocar na retomada da economia. Em sua maioria, são trabalhadores mais jovens e de menor escolaridade. É o caso de garçons, vendedores de lojas, manicures e empregadas domésticas.

As vagas de trabalho, formais e informais, que necessariamente são presenciais, somavam 79,7 milhões de trabalhadores – 86% do total de empregados no fim de 2019. Essa parcela perdeu mais empregos com a crise, na comparação com os 12,9 milhões de trabalhadores em vagas que podiam ser executadas a distância, conforme um estudo em andamento da consultoria IDados, obtido com exclusividade pelo Estadão.

Neste ano, com a piora da pandemia e especialistas definindo o momento como segunda onda de Covid-19 no país, a tendência é que as oportunidades nas profissões necessariamente presenciais sigam mais raras, o que deverá contribuir para a alta do desemprego e o aumento da pobreza – conforme projeção do pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), sem o auxílio emergencial, 62,4 milhões de brasileiros, quase um terço (29,5%) da população, começaram este ano abaixo da linha de pobreza.

Trabalho remoto x trabalho presencial

Segundo Bruno Ottoni, pesquisador do iDados, no quarto trimestre do ano passado a população ocupada nas profissões propícias ao trabalho remoto era 3,4% menor do que um ano antes, em igual período de 2019.

Enquanto isso, a variação da população ocupada em vagas necessariamente presenciais apontava para o fechamento de 8 milhões de vagas ante um ano antes, um tombo de 10% na ocupação desse grupo. É uma retração três vezes maior do que a vista nas profissões propícias ao trabalho remoto – a discrepância aumentou, em relação ao terceiro trimestre.

O estudo do IDados usa as informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE, replicando a classificação de ocupações propícias ao trabalho remoto de um estudo publicado no ano passado nos Estados Unidos.

O especialista em políticas públicas e gestão governamental do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), órgão do Ministério da Economia, Geraldo Góes, diz que o perfil do trabalhador remoto é composto majoritariamente por mulheres brancas que completaram o ensino superior.

“Quanto maior a renda per capita do Estado, maior a escolaridade local, maior a proporção de pessoas trabalhando remotamente. Tem muito pouco trabalho remoto no Norte e Nordeste, mas na Faria Lima tem bastante”, afirma Góes.

Para Ottoni, do IDados, a discrepância na dinâmica de abertura e fechamento de vagas entre os dois grupos tende a aumentar neste primeiro trimestre, quando a economia deverá encolher frente o quarto trimestre de 2020. Os trabalhadores enfrentarão, ao mesmo tempo, a piora da pandemia e a falta do auxílio emergencial, já que a retomada do pagamento do benefício ficou mesmo para abril.

“Minha expectativa, diante do que tenho analisado dos dados antecedentes, é que, em janeiro e fevereiro, as pessoas voltaram para o mercado de trabalho, voltaram a procurar emprego, porque o auxílio acabou”, diz Ottoni.

Os trabalhadores informais devem ter retomado suas atividades, de acordo com Ottoni. Com a abertura de vagas formais nas empresas que estavam funcionando mais ou menos normalmente em janeiro e fevereiro – antes do aperto nas restrições ao contato social -, a ocupação deve ter crescido. Por outro lado, sem o auxílio, os informais podem ter voltado a trabalhar por qualquer remuneração. O rendimento do trabalho pode ter despencado.

Retração será menor em 2021

O economista Cosmo Donato, da LCA Consultores, lembra que a retração da economia não será como em 2020, no início da pandemia, porque o choque “não é inesperado”. Ao mesmo tempo, o trabalhador informal “está tão vulnerável quanto antes”. Nesse quadro, a economia segue em retomada na comparação com 2020, mas com desemprego maior e aumento da pobreza.

“O cenário da segunda onda da pandemia é uma recuperação mais desigual”, afirma Donato. Por isso, para o economista, “é importante, sim, pensar em medidas” para mitigar a crise, como a reedição do auxílio emergencial.

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