Dada a extensão da pandemia do coronavírus, impactos negativos na economia foram gerados, afetando a sociedade brasileira nas mais diversas frentes.
Um dos impactos mais evidentes envolve a queda na renda do brasileiro. A Tendências Consultoria projetou em relatório recente que, mesmo com a liberação do auxílio emergencial, a população do país deve enfrentar uma diminuição de renda na casa de R$ 157 bilhões em relação ao ano passado. Estudos da FGV Social já haviam indicado a queda de mais de 20% na renda individual do brasileiro em 2020.
Em que pesem essas variações, a queda no poder de compra da população forçou, por sua vez, uma mudança profunda dos hábitos de consumo do brasileiro que, segundo a FecomercioSP – em pesquisa divulgada no fim do último mês de outubro – afetou a realidade de 72% dos cidadãos do país incluindo, por exemplo, desde cortes gerais de gastos (para 54% da população), passando por queda no consumo de roupas e calçados (42%) e, até mesmo, a compra de bens essenciais, como alimentos e remédios (22%).
Para compensar a queda no rendimento e da atividade econômica do país, muitos cidadãos e empresas recorreram também ao crédito e ao aumento de parcelamentos, inclusive para a compra de bens essenciais.
Dado este cenário, o endividamento das famílias e das empresas cresceu de modo significativo. Em agosto do ano passado, as dívidas corporativas de empresas não-financeiras chegaram a 60,5% do PIB – em dezembro de 2019, este índice era de 51,2%, de acordo com o Centro de Estudos do Mercado de Capitais (Cemec/Fipe). Em contrapartida, em 2020, 66,5% das famílias brasileiras estavam endividadas, dado recorde segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores, apurada pela CNC desde 2010.
Mesmo neste contexto de apelo ao crédito e parcelamentos para compensar a significativa queda no poder de consumo da população brasileira, os índices mais recentes de inadimplência, por hora, têm mantido movimentos moderados.
E quais considerações podemos fazer a esse respeito? Tal moderação pode ser reflexo da proatividade dos credores na gestão dos contratos com maior risco de atraso, do crescimento do volume concedido de crédito, que atenua a taxa de inadimplência das carteiras no curto prazo – o chamado efeito denominador do índice – ou da possibilidade de suavização dos resultados contábeis, derivada do processo de estimativa de perdas esperadas e provisionamento para créditos com liquidação duvidosa. Obviamente, também pode ser uma combinação das três possibilidades.
Considerando estes fatores, ainda é cedo para previsões otimistas ou pessimistas. Tudo dependerá do desenrolar da crise e de fatores diversos que incluem, por exemplo, a decisão (ou não) de novos e mais extensivos períodos de isolamento social severos que podem desencadear em um agravamento da crise econômica e influenciar a capacidade dos brasileiros em quitar suas dívidas, parcelamentos e operações de crédito.
Fonte: Pedro Bono, CEO e cofundador na Receiv, sistema de cobrança inteligente