Influenciado pelas inovações proporcionadas pelos ambientes digitais para as intermediações financeiras, o Banco Central está avançando nas discussões que visam a criação e a implantação da moeda digital brasileira, o Real Digital.
O diretor de organização do sistema financeiro e resolução do BC, João Manoel Pinho de Mello, e especialistas mostraram confiança na adoção do real digital pela população, caso a autoridade monetária leve o projeto adiante. Eles participaram de um evento virtual promovido pelo BC nesta quinta-feira (29) para debater o potencial da moeda digital.
Em seu discurso, Pinho de Mello também disse que haverá, no longo prazo, uma migração significativa do papel moeda para formas digitais de realizar pagamentos.
“E acreditamos que isso passará também pelo uso de CBDCs”, disse, referindo-se à sigla em inglês para moedas digitais.
Real digital
O BC vem trabalhando desde meados do ano passado na criação de sua própria moeda digital. Algumas das diretrizes já divulgadas para essa nova forma do real são: emissão apenas pela própria autoridade monetária; custódia pelas instituições financeiras, sem possibilidade de transação direta entre pessoas e empresas; e ausência de remuneração.
Da maneira como vem sendo desenhado pela autoridade monetária, o real digital teria diferenças tanto em relação à moeda física quanto ao Pix, por exemplo. No primeiro caso, justamente por ter formato digital, não poderia ser sacado. No segundo caso, por ser um meio de pagamento, operaria dentro de sistemas, como o próprio Pix.
A avaliação do BC é que o Brasil pode ter condições já no fim de 2022 de implantar o real digital, mas a instituição também afirma que ainda é cedo para cravar que o projeto se tornará realidade.
Pinho de Mello destacou que, se bem desenhadas, as moedas digitais oficiais poderão “ampliar a inclusão financeira” e “diminuir o custo e tempo de pagamentos transfronteiriços”.
Contudo, ele afirmou que o processo exige “extremo cuidado na escolha do desenho e das tecnologias”. Segundo o diretor, esses fatores são essenciais para evitar desrespeito a leis de proteção de dados, corridas bancárias e ataques cibernéticos.
Substituição
O especialista também defendeu que o uso das moedas digitais entre diferentes países “deve ter especial consideração”, para “evitar substituições indesejadas da moeda soberana de um país pela de outro”.
Tanto Pinho de Mello quanto os especialistas defenderam que o real digital serviria para complementar, e não substituir, a moeda física.
“Estamos fazendo uma transposição do papel para o real digital, mas não vamos perder toda essa estrutura que garante a confiança no sistema”, afirmou Diniz, da EAESP-FGV, destacando que seriam mantidos pelo Banco Central os protocolos de funcionamento e validação da nova moeda, por exemplo. “Não vamos desestruturar uma certa lógica que existe.”