Apesar da falta de contato físico por conta do avanço do home office, o número de queixas nos canais de denúncias das empresas aumentaram.
Um levantamento realizado pela Deloitte com 100 empresas no Brasil mostra que a maioria dos relatos recebidos é ligada a desvios comportamentais, como assédio moral e conflitos entre chefes e liderados
O aumento nos reportes, segundo o executivo, foi puxado por dois fatores: falta de preparação adequada das chefias para gerenciar os expedientes a distância e maior quantidade de funcionários dispostos a apontar episódios de desvios.
“As organizações enfrentam desafios para preparar seus gestores em relação à prevenção do assédio”, analisa. “Apesar de não haver contato físico, a jornada a distância, se não for bem estruturada, eleva as tensões entre liderança e equipes.”
Para o sócio de Risk Advisory da Deloitte, Edson Cedraz, as pessoas também estão mais vigilantes em relação à responsabilidade social das corporações, o que confere aos canais de denúncias um perfil de acolhimento. “Isso encoraja mais gente a se manifestar.”
Denúncias de empresas
De acordo com o levantamento da Deloitte, com dados coletados de 2013 até março de 2022 em 100 empresas nacionais e multinacionais no Brasil, a maioria ou 47% dos relatos são ligados a desvios comportamentais, como assédio moral e conflitos chefes-liderados, antes de descumprimento de normas (28%), fraudes (15%) e desrespeito a exigências regulatórias (11%).
No recorte de desvios comportamentais, os mais informados são assédio moral (31%) e conflitos chefes-liderados (24%). O assédio sexual marca 4%. Já o principal meio de fazer as denúncias é via site (49%), seguido de linhas 0800 (29%) e e-mail (17%).
Empresas com alta capilaridade de unidades e maior número de empregados tendem a utilizar mais o telefone para receber as reclamações, de acordo com o especialista.
“É importante ressaltar que um atendimento humanizado, feito por profissionais especializados, faz toda a diferença”, explica. “Até chegar à decisão de denunciar, o manifestante passou por momentos difíceis e precisa ser acolhido.”
Canal de denúncias
Para Edson Cedraz, todas as instituições devem abrir esse canal de denúncias, desde as pequenas empresas até as de grande porte.
“É fundamental para a manutenção de um ambiente de trabalho saudável e a preservação de valores previstos na cultura corporativa”, destaca. “Além disso, protege ativos intangíveis, como a reputação da organização.”
Para empresas que desejam montar um birô de denúncias, o especialista recomenda investir na credibilidade do sistema. “Antes de mais nada, não crie um canal que não passa confiança”, sugere.
“Independência e estrutura profissional são palavras-chave.” Preparar-se para acolher e tratar os temas é outro passo crítico, diz. “Mostrar governança e diligência sobre as histórias reportadas vai garantir a eficácia do processo.”