O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (7), em Brasília, para decidir sobre a taxa básica de juros (Selic). A expectativa predominante entre analistas do mercado financeiro é de um novo aumento de 0,5 ponto percentual, elevando a Selic para 14,75% ao ano — o maior nível desde agosto de 2006.
A possível elevação é sustentada por projeções de inflação acima da meta, cenário internacional incerto e câmbio volátil. A decisão será anunciada no fim da tarde e poderá indicar os rumos da política monetária nos próximos meses.
Expectativas do mercado para a Selic
Segundo levantamento da agência Bloomberg, 31 das 32 instituições financeiras consultadas apostam em alta de 0,5 ponto percentual. Apenas uma prevê um ajuste menor, de 0,25 ponto. A taxa de juros atual está em 14,25% ao ano.
A inflação persistente e a pressão cambial, agravadas pela instabilidade global e decisões de política monetária no exterior, influenciam o Copom a manter uma postura cautelosa. Para junho, parte dos analistas ainda projeta um ajuste residual.
Inflação segue acima da meta
A inflação medida pelo IPCA-15 acumulou alta de 5,49% em 12 meses até abril. Os principais responsáveis pela pressão inflacionária foram alimentos e itens de saúde. O índice oficial continua distante da meta de 3% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Segundo o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, o hiato do produto permanece positivo, o que indica uma economia operando acima de seu potencial, com riscos inflacionários associados à demanda.
Cenário externo traz incertezas
A guerra comercial conduzida pelos Estados Unidos e o chamado "tarifaço" impactam diretamente os preços de commodities e o comportamento cambial. O dólar, que chegou a ser cotado a R$ 5,80 em março, deve encerrar esta quarta-feira em torno de R$ 5,70, segundo projeções de mercado.
Apesar das pressões do governo norte-americano, o Federal Reserve (Fed) deve manter inalterada a taxa básica de juros nos EUA, atualmente entre 4,25% e 4,50% ao ano. A decisão será anunciada no mesmo dia da reunião do Copom.
Projeções para o ciclo de alta da Selic
Schwartsman projeta que a Selic atinja 15% em junho, encerrando o atual ciclo de alta. Ele considera possível um ajuste menor no próximo encontro, de 0,25 ponto. “O Banco Central não deve sinalizar os próximos passos com firmeza. Qualquer amarra pode comprometer sua credibilidade”, afirma.
Já o Santander revisou sua estimativa e prevê o fim do ciclo nesta quarta-feira, com uma alta final de 0,5 ponto percentual. Marco Antonio Caruso, economista-chefe da instituição, observa que um juro real de 9,5% é elevado historicamente. Para ele, a autoridade monetária pode adotar um “guidance light”, ou seja, uma comunicação mais aberta e menos comprometedora.
Comunicação do BC será decisiva
A sinalização do Banco Central sobre os próximos passos será acompanhada de perto. A tendência é que o comunicado seja semelhante ao de agosto de 2022, quando o Copom indicou possível ajuste residual e reforçou postura vigilante.
Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, acredita que a elevação desta quarta será seguida por novo aumento de 0,25 ponto em junho. “O Copom não tem enfatizado que o ciclo está próximo do fim, como costuma fazer nesses momentos”, observa.
Ela projeta corte de juros apenas em dezembro, condicionado à convergência da inflação e a uma política fiscal mais disciplinada. “O espaço para redução existe, mas depende da combinação entre desinflação, estabilidade fiscal e impactos externos”, analisa.
Impactos para a economia e os investidores
A alta dos juros encarece o crédito, desestimula o consumo e influencia decisões de investimento. Empresas devem revisar projeções financeiras, e investidores tendem a buscar aplicações de renda fixa. Já o governo enfrenta maiores custos para rolar a dívida pública.
O Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, mostra que a mediana das projeções para a Selic ao fim de 2025 recuou pela primeira vez em quatro meses, passando de 15% para 14,75%.
Perspectivas para os próximos meses
Com a manutenção da inflação elevada e a atividade econômica aquecida, o Banco Central deve manter o discurso de vigilância. A decisão de hoje poderá marcar o ápice do atual ciclo de aperto monetário, mas o cenário ainda depende da evolução dos dados econômicos, tanto no Brasil quanto no exterior.
Economistas recomendam atenção redobrada a indicadores como o IPCA, o câmbio e as metas fiscais. O comportamento desses fatores será determinante para os rumos da Selic nos próximos trimestres.
Referência normativa
A política monetária no Brasil é conduzida pelo Banco Central, com base nas diretrizes do Conselho Monetário Nacional. A meta de inflação e os instrumentos disponíveis para seu controle estão previstos na Lei nº 4.595/1964 e nas resoluções do CMN.
Com informações adaptadas da Folha de S. Paulo