A greve dos auditores-fiscais da Receita Federal completa 170 dias nesta semana, sem qualquer perspectiva de acordo com o governo. Iniciada em 26 de novembro de 2024, a paralisação — motivada pela ausência de reajustes salariais — já provocou prejuízos bilionários ao comércio exterior e acende o alerta para uma possível crise estrutural.
Entre os efeitos imediatos está o atraso na liberação da declaração pré-preenchida do Imposto de Renda, ocorrido em março. No entanto, os impactos se estendem por diversos setores da economia, especialmente os que dependem da regularidade aduaneira, como o farmacêutico, automotivo e alimentício.
Com a lentidão nos procedimentos da Receita, o Brasil perde competitividade frente a países como Chile e Colômbia, que possuem sistemas aduaneiros mais eficientes e ágeis, podendo atrair investimentos que, até então, viriam ao Brasil.
O especialista em comércio exterior, Jackson Campos, explicou ao Jornal Extra que a falta de iniciativa do governo para resolver a paralisação é sistêmica e pode gerar perdas de até R$ 40 bilhões até o fim de 2025. Apenas até março deste ano, as perdas em arrecadação já somam cerca de R$ 14,6 bilhões devido à operação-padrão adotada pelos servidores.
Atrasos e prejuízos logísticos
A greve tem afetado diretamente a liberação de mercadorias que exigem fiscalização para entrar no país, gerando atrasos logísticos e prejuízos milionários. Empresas que operam no comércio exterior enfrentam custos adicionais com cargas paradas e precisam renegociar prazos e contratos com parceiros internacionais.
“Com a lentidão nos trâmites aduaneiros, o Brasil está perdendo atratividade e corre o risco de sofrer com o desabastecimento de produtos”, alerta Campos.
Além disso, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) acumula cerca de R$ 51 bilhões em processos tributários parados, agravando a insegurança jurídica e fiscal. A greve também pode comprometer o cronograma da reforma tributária, prevista para 2026, e afetar os prazos da restituição do Imposto de Renda.
O que reivindicam os auditores?
A principal demanda dos auditores-fiscais é a recomposição salarial, diante de perdas acumuladas de cerca de 28% nos últimos anos. Eles também criticam mudanças nas regras de pagamento do bônus de eficiência da categoria.
Mesmo com a gravidade do cenário, a última reunião entre o Sindifisco Nacional — entidade que representa os auditores — e o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, realizada no dia 14, terminou sem avanços ou propostas concretas.
Com informações Jornal Extra