Um fenômeno global tem chamado a atenção de empresas, governos e especialistas em comportamento: o crescimento do grupo "Nem Nem Nem" entre a Geração Z — jovens que não trabalham, não estudam e não fazem treinamentos. A escolha pelo afastamento das responsabilidades tradicionais da vida adulta parece, cada vez mais, uma decisão consciente.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho, cerca de 20% da população mundial entre 15 e 24 anos se enquadra nessa categoria. Dados de um relatório da PwC mostram que 4 em cada 10 membros da Geração Z estão dispostos a pedir demissão e viver com o seguro-desemprego.
Números globais preocupam
Na Espanha, mais de 500 mil jovens estão fora do mercado e do sistema educacional. No Reino Unido, aproximadamente 3 milhões de jovens da Geração Z são considerados economicamente inativos. Desde a pandemia, cerca de 384 mil ingressaram nessa condição.
A falta de perspectiva de conquistar estabilidade financeira ou adquirir um imóvel tem desestimulado os jovens. Mesmo que avançassem na carreira, muitos acreditam que comprar uma casa é inalcançável.
Foco no presente e rejeição da "correria"
A frase de um jovem publicada na revista Fortune resume a visão de muitos: "Estou apenas me concentrando no presente porque o futuro é deprimente". Ao contrário dos Millennials, marcados pelo lema "trabalhe duro e conquiste tudo", a Geração Z parece mais inclinada a preservar sua saúde mental do que a perseguir sucesso profissional a qualquer custo.
Pesquisas apontam que os jovens preferem empregos com menor carga de responsabilidade e jornadas mais leves. Funções com mais folgas, como as da área da educação, ganham popularidade. Paralelamente, cresce o interesse por ocupações técnicas entre os que não têm diploma universitário.
Problemas financeiros ampliam o desânimo
Comparando com a Geração Y, a Geração Z ganha menos, acumula mais dívidas e apresenta taxas maiores de inadimplência. Estudo da TransUnion revela que os jovens de 20 e poucos anos ganham hoje em média US$ 45.500 por ano, enquanto os Millennials ganhavam, ajustado pela inflação, cerca de US$ 51.852 na mesma idade.
A disparada da inflação e dos preços imobiliários aumenta a sensação de frustração: para muitos, não compensa esforçar-se por um futuro que parece cada vez mais inalcançável.
Saúde mental em declínio
Enquanto a desocupação juvenil aumenta, a saúde mental também preocupa. Jovens da Geração Z são quase duas vezes mais propensos a sofrer de transtornos como ansiedade e depressão do que os Millennials na mesma idade. Mais de um terço dos jovens entre 18 e 24 anos apresenta sintomas de transtornos mentais comuns.
Mesmo os que estão empregados tiram mais licenças médicas do que a Geração X, com pelo menos 20 anos a mais. O relatório da Resolution Foundation aponta que a ausência por motivos de saúde entre os jovens é uma tendência crescente e alarmante.
Empresas tóxicas afastam os jovens
Para parte dos analistas, não é surpresa que tantos jovens evitem o mercado formal quando mais da metade dos CEOs admite que a cultura de suas empresas é tóxica. Esse ambiente desfavorável contribui para a rejeição de carreiras tradicionais e a busca por modelos de trabalho menos opressores.
O avanço dos "Nem Nem Nem" na Geração Z não é apenas um desafio econômico, mas também social e comportamental. Entender as causas desse fenômeno exige olhar para o contexto histórico, as condições do mercado e os valores das novas gerações.
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