A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) é um dos principais relatórios contábeis utilizados para avaliar o desempenho financeiro das empresas. No entanto, muitas pequenas e médias empresas (PMEs), especialmente as familiares, ainda tratam a DRE apenas como uma exigência formal, o que pode comprometer a gestão financeira e a identificação de riscos.
A correta análise da DRE permite muito mais do que visualizar lucro ou prejuízo. Ela revela a eficiência da estrutura de custos, a adequação dos preços praticados e a sustentabilidade do crescimento da empresa. Quando usada de forma estratégica, a DRE se torna um instrumento relevante para o planejamento e a tomada de decisões.
DRE nas PMEs: da formalidade à gestão estratégica
Apesar da importância da DRE, ainda é comum que pequenas e médias empresas utilizem esse demonstrativo apenas para cumprir obrigações fiscais e societárias. Essa prática limita o potencial da ferramenta como suporte à gestão.
Segundo estudo publicado na Revista Interdisciplinar de Valoração e Evidência (REIVA), a controladoria é essencial mesmo nas empresas de menor porte, pois permite decisões baseadas em dados confiáveis e contribui para a continuidade e a saúde financeira do negócio.
Entretanto, muitas PMEs ainda enfrentam desafios no controle financeiro. Dados recentes apontam que:
- Cerca de 41% das PMEs não realizam controle rigoroso do fluxo de caixa;
- Parte significativa das empresas desconhece o valor real disponível em caixa.
Essas falhas podem gerar problemas de liquidez, atrasos no pagamento de fornecedores e colaboradores, além de prejudicar a imagem da empresa no mercado.
A DRE como indicador financeiro e de gestão
A DRE pode servir como um importante termômetro financeiro, sinalizando aspectos como a precificação correta dos produtos e serviços, a adequação da estrutura de custos e a sustentabilidade das operações. Para isso, é fundamental que os gestores saibam interpretar os dados com visão crítica e distanciamento técnico.
Entre os principais sinais de alerta que podem ser identificados por meio da DRE estão:
- Crescimento da receita sem aumento proporcional da lucratividade;
- Elevação dos custos fixos, afetando a margem líquida;
- Endividamento acima da capacidade de pagamento da empresa;
- Descompasso entre as contas a pagar e as contas a receber.
Esses indícios, quando analisados com antecedência, permitem que as empresas realizem ajustes e previnam impactos financeiros negativos.
DRE deve ser analisada em conjunto com outros relatórios
Para que a análise da DRE seja completa, é necessário integrá-la a outros demonstrativos financeiros, como o fluxo de caixa e o balanço patrimonial. Essa visão consolidada proporciona um diagnóstico mais preciso da saúde financeira da empresa e apoia a tomada de decisões estratégicas.
Além disso, a leitura isolada da DRE pode levar a conclusões imprecisas. Por exemplo, uma empresa pode apresentar lucro, mas estar com o fluxo de caixa comprometido, o que coloca a operação em risco.
Controladoria é essencial para pequenas e médias empresas
A estruturação da controladoria é um passo importante para que a DRE deixe de ser apenas um relatório contábil e passe a ter relevância estratégica na rotina das empresas. Segundo especialistas, mesmo negócios de pequeno porte devem investir em práticas de governança e controle financeiro eficazes.
Entre as ações recomendadas para melhorar a leitura e o uso da DRE estão:
- Elaborar projeções financeiras realistas e atualizadas;
- Realizar análises periódicas de viabilidade de investimentos;
- Monitorar indicadores financeiros (KPIs) com foco na sustentabilidade;
- Garantir a integração entre DRE, fluxo de caixa e balanço patrimonial;
- Produzir relatórios financeiros interpretativos e frequentes.
Essas práticas fortalecem a gestão financeira, aumentam a capacidade de antecipar riscos e permitem decisões mais embasadas, especialmente em momentos de expansão, reorganização ou busca por crédito.
A importância da DRE para a longevidade das PMEs
O cenário econômico brasileiro, marcado por alta competitividade e constantes mudanças fiscais e tributárias, exige das empresas atenção redobrada à gestão financeira. Nesse contexto, a DRE se consolida como uma ferramenta fundamental para a sobrevivência e o crescimento sustentável das pequenas e médias empresas.
Ao utilizar a DRE como um relatório estratégico, os gestores conseguem visualizar oportunidades de ajuste, corrigir distorções e estabelecer metas financeiras com base em dados concretos. A análise contínua contribui para manter a operação equilibrada e preparar a empresa para enfrentar desafios de mercado.
Além disso, empresas que valorizam a análise da DRE tendem a ter maior controle sobre sua rentabilidade, menor exposição a riscos financeiros e maior capacidade de atrair investidores e parceiros de negócio.
Por fim, a Demonstração do Resultado do Exercício deve ser tratada pelas PMEs como um instrumento central de gestão financeira e não apenas como uma obrigação contábil. A utilização eficaz da DRE proporciona ganhos relevantes em planejamento, redução de riscos e sustentabilidade do negócio no longo prazo.
Logo, investir em uma controladoria estruturada e capacitar os profissionais responsáveis pela análise financeira são medidas essenciais para transformar a DRE em um diferencial competitivo. Assim, as pequenas e médias empresas aumentam suas chances de prosperar em um mercado cada vez mais dinâmico e exigente.