A judicialização do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), levado pelo governo federal ao Supremo Tribunal Federal (STF) após a derrubada de decretos pelo Congresso Nacional, acendeu um sinal de alerta para o setor de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). Gestoras e consultores alertam que a insegurança jurídica gerada pela ação pode comprometer o acesso ao crédito para mais de 3 milhões de empresas no país, em especial micro e pequenas.
Segundo a gestora Ouro Preto Investimentos, uma das maiores do segmento, o cenário de incerteza provocou a suspensão de aportes em diversos fundos, o que tende a afetar diretamente o fluxo de caixa das empresas que dependem desse tipo de financiamento.
IOF sobre FIDCs: entenda o impasse
Em maio, o governo editou o Decreto nº 12.466/2024, elevando a alíquota do IOF sobre operações com cotas de FIDCs. A medida gerou forte reação do mercado financeiro e foi posteriormente anulada pelo Congresso, que entendeu haver abuso de competência e impacto econômico injustificado. No entanto, em 1º de agosto, o Executivo recorreu ao STF para reverter a decisão.
A judicialização trouxe insegurança sobre a incidência do IOF tanto no momento da aplicação dos investidores quanto na compra de cotas dentro dos fundos.
“Com a falta de clareza jurídica, os administradores de FIDCs estão em uma situação delicada. A dúvida é se o IOF vai incidir sobre o investidor no momento da aplicação, assim como nas operações internas do fundo.”Leandro Turaça, sócio da Ouro Preto Investimentos
Setor registra queda na captação e paralisa aportes
Antes do decreto, o mercado de FIDCs vinha registrando captações mensais entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões. Desde então, segundo a Ouro Preto, “uma quantidade expressiva de recursos permaneceu represada”, refletindo a paralisação das novas aplicações enquanto não há definição oficial sobre a tributação.
Richard Ionescu, consultor do fundo IOX I FIDC, lembra que a revogação do decreto havia gerado alívio momentâneo para o setor. Entretanto, com o recurso ao STF, o clima de instabilidade voltou.
“A queda de captação dos FIDCs foi significativa. Isso afeta diretamente o financiamento da produção das pequenas e médias empresas, cujo fluxo de caixa depende desse tipo de crédito.”Richard Ionescu, consultor do fundo IOX I FIDC
Impacto direto para empresas e aumento do risco de inadimplência
O efeito imediato da suspensão das captações é o estrangulamento da liquidez para empresas que utilizam os FIDCs como principal fonte de capital de giro. A Ouro Preto estima que o número de empresas impactadas pode superar 3 milhões.
Além da restrição ao crédito, o setor teme um aumento nos pedidos de recuperação judicial, especialmente entre negócios com margens reduzidas e alta dependência de capital externo.
“Se esse impasse persistir, o fluxo de caixa das empresas que dependem desse tipo de crédito será severamente afetado. A consequência natural é o aumento da inadimplência.”Leandro Turaça
Estratégias para mitigar perdas
Diante do cenário incerto, a Ouro Preto informou ter ajustado a rentabilidade de suas novas aplicações para compensar o impacto do IOF. A ideia foi gerar, desde o primeiro dia útil de captação, um rendimento acima de 0,38% ao dia, que cobriria a alíquota máxima de IOF aplicada a operações de curto prazo.
A estratégia é temporária e será revisada conforme a evolução do processo no STF e eventuais manifestações da Receita Federal.
Alerta para contadores e consultores financeiros
O caso reforça a importância do acompanhamento constante da jurisprudência tributária e da estruturação adequada de produtos financeiros. Profissionais da contabilidade devem:
- Monitorar os desdobramentos da ação no STF;
- Reavaliar o impacto do IOF sobre rendimentos e repasses;
- Orientar seus clientes sobre a exposição a produtos com risco de alteração tributária;
- Atualizar simulações de rentabilidade líquida com base nos diferentes cenários.
Judicialização pode comprometer oferta de crédito
A judicialização do aumento do IOF traz instabilidade a um mercado que cumpre papel estratégico no financiamento de pequenas e médias empresas. A suspensão de captações por parte de fundos, aliada à falta de uma definição clara por parte do governo ou da Receita Federal, coloca em risco o fluxo de caixa de milhares de empreendimentos.
O setor de FIDCs aguarda uma decisão célere por parte do STF, que traga segurança jurídica e previsibilidade. Enquanto isso, empresas e contadores devem agir com cautela e buscar alternativas de crédito que garantam continuidade operacional em um cenário de incerteza.
Com informações CNN Brasil