A MRV Engenharia anunciou, na última sexta-feira (11), o início de uma nova fase no plano de reestruturação de sua subsidiária norte-americana, a Resia. A empresa comunicou ao mercado que parte dos imóveis da operação nos Estados Unidos será colocada como “disponível para venda”, o que poderá gerar uma perda contábil (impairment) estimada em até US$ 144 milhões.
O ajuste contábil será refletido nas demonstrações financeiras do segundo trimestre de 2025, após avaliação da auditoria independente. A medida integra a estratégia da companhia para reduzir endividamento e otimizar a geração de caixa da Resia.
Desinvestimento deve gerar US$ 493 milhões em caixa
Segundo estimativas divulgadas pela MRV, a execução completa do plano de desinvestimento da Resia deverá gerar US$ 493 milhões em caixa até o final de 2026. Desse total, US$ 365 milhões serão utilizados para reduzir a dívida líquida do grupo, enquanto os US$ 128 milhões restantes serão restituídos a investidores dos projetos imobiliários.
Em decorrência da nova estimativa, a empresa revisou seu guidance de geração de caixa, que antes previa US$ 270 milhões até o fim de 2025. Agora, o valor projetado é quase o dobro, com prazo estendido para o encerramento de 2026.
Reestruturação da Resia mira modelo mais leve e rentável
Desde o MRV Day, realizado em abril de 2025, a construtora vem detalhando a reformulação da estratégia da Resia, com foco em desalavancagem financeira e eficiência operacional. Entre as principais medidas estão:
- Venda de US$ 800 milhões em ativos até 2026;
- Redução dos custos administrativos (SG&A) de US$ 30 milhões para US$ 10 milhões ao ano;
- Limitação da atuação a dois projetos por ano;
- Diminuição do capital próprio nos projetos, de 30% para 10%.
A mudança representa uma transição do antigo modelo intensivo em capital para uma estratégia “asset light”, na qual a empresa reduz sua exposição direta e aumenta a rentabilidade esperada. A taxa interna de retorno (TIR), segundo o CFO Ricardo Paixão, pode subir de 36% para 55% nos novos empreendimentos.
Impacto contábil deve ocorrer no 2º trimestre de 2025
Os ativos que serão desinvestidos já foram classificados como “disponíveis para venda” nas demonstrações financeiras e estão sujeitos a testes de recuperabilidade. O eventual impairment de até US$ 144 milhões será lançado como ajuste contábil, conforme as normas internacionais de contabilidade (IFRS).
Esse tipo de baixa é obrigatório quando o valor de mercado de um ativo é inferior ao seu valor contábil, o que exige o reconhecimento da perda para refletir a realidade econômica da operação.
A auditoria independente da MRV será responsável por validar o montante a ser registrado, conforme previsto nas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Estratégia foca redução da dívida e mudança de perfil operacional
O foco da MRV com a nova Resia é reduzir significativamente o endividamento nos EUA, mantendo apenas projetos mais rentáveis e ajustando sua atuação ao novo cenário do mercado imobiliário norte-americano.
“Vamos fazer a nova Resia com uma estrutura muito mais enxuta”, afirmou o CFO Ricardo Paixão. Segundo ele, a estratégia busca concentrar recursos em iniciativas com maior retorno e menor complexidade operacional, como a adoção de tecnologias construtivas padronizadas e produção fora do canteiro (off-site).
A empresa também pretende vender mais da metade do landbank da subsidiária, ou seja, os terrenos disponíveis para desenvolvimento imobiliário, que atualmente representam parte relevante do ativo total da Resia.
Comparativo: antiga vs. nova Resia
A seguir, veja as principais mudanças entre o modelo anterior da Resia e a nova estratégia:
Antiga Resia |
Nova Resia |
Modelo intensivo em capital próprio |
Estratégia asset light |
Projetos consolidados no balanço |
Financiamento fora do balanço |
Expansão acelerada com riscos de execução |
Foco em lançamentos pontuais e simples |
SG&A de US$ 30 milhões/ano |
SG&A reduzido a US$ 10 milhões/ano |
Produto diversificado |
Produto padronizado (ex: parede de concreto) |
Atuação em mercado competitivo |
Atuação em nichos com demanda aquecida |
Mercado americano favorece nova abordagem
A MRV avalia que o mercado imobiliário dos EUA segue aquecido em determinadas regiões, especialmente no segmento de renda média e baixa, o principal foco da Resia. A oferta de unidades residenciais está abaixo da demanda, o que, segundo a empresa, favorece a adoção de um portfólio mais enxuto e escalável.
Além disso, ao reduzir a necessidade de capital próprio em cada projeto, a nova abordagem permite melhor alocação de recursos, com menor risco financeiro e maior retorno por unidade investida.
Transparência contábil e governança
A decisão de comunicar o possível impairment reforça o compromisso da MRV com a transparência nas demonstrações contábeis, especialmente em um momento de reestruturação internacional. O ajuste será tratado como um evento não recorrente, ou seja, não comprometerá a geração de caixa futura da companhia.
A baixa contábil reflete exclusivamente a revisão da expectativa de recuperação dos ativos e não afeta diretamente o caixa da empresa. Ainda assim, o impacto deve ser acompanhado por analistas e investidores, uma vez que altera a composição do balanço patrimonial no curto prazo.
Expectativas do mercado e próximos passos
A companhia ainda não detalhou o cronograma completo dos desinvestimentos nem os ativos específicos que serão vendidos. Contudo, analistas de mercado acompanham de perto a movimentação, diante do alto volume de recursos envolvidos.
A próxima divulgação de resultados da MRV, referente ao 2º trimestre de 2025, trará informações atualizadas sobre o valor do impairment e os efeitos financeiros iniciais da nova fase da Resia.
Com informações do Money Times