A Polícia Federal (PF) apontou, em relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), indícios de proximidade entre o senador Izalci Lucas (PL-DF) e o contador Adriano Marrocos, investigado no âmbito da Operação Korban. A apuração investiga o suposto desvio de recursos públicos por meio de emendas parlamentares destinadas à Associação Moriá, organização responsável por projetos educacionais no Distrito Federal.
Segundo os autos, o contador, que é ex-presidente do Conselho Regional de Contabilidade do DF e membro do Conselho Federal de Contabilidade, é apontado como uma das figuras centrais na captação de emendas e também como responsável pela atuação contábil de empresas ligadas à entidade investigada. A PF destaca que a relação entre o contador e o senador se manteve ao longo de mais de uma década, com registros de participação conjunta em eventos institucionais e sessões no Senado.
Os investigadores disseram ao Supremo não haver indícios de que houve conversas entre os suspeitos e o senador para o desvio de recursos públicos. Izalci não foi alvo de operação da Polícia Federal.
Mais de R$ 7 milhões repassados
A investigação indica que, em 2023, o senador Izalci destinou cerca de R$ 9,4 milhões em emendas, sendo R$ 7,5 milhões especificamente para a Associação Moriá. A entidade, por sua vez, teria subcontratado empresas supostamente ligadas ao contador e sua esposa para a execução de atividades relacionadas ao Circuito de Jogos Digitais do DF.
A Controladoria-Geral da União (CGU) identificou que aproximadamente 90% dos valores recebidos pela associação foram repassados a empresas terceirizadas, levantando suspeitas de sobrepreço e possíveis vínculos entre prestadores de serviço e dirigentes da Moriá.
O senador Izalci Lucas afirmou, em nota, que não mantém relação institucional com a entidade e que solicitou o cancelamento da emenda, assim que tomou conhecimento das investigações. Ele também negou ter discutido o tema com Adriano Marrocos, ressaltando que os contatos se deram apenas em agendas solenes relacionadas à contabilidade.
Já o contador e a empresa Marrocos Serviços Contábeis informaram, por meio de comunicado, que atuam exclusivamente com serviços contábeis para a Moriá e que não participaram de nenhuma captação de recursos ou direcionamento de emendas. A nota também contesta qualquer acusação de irregularidade e reforça que as atividades exercidas são legítimas e devidamente contratadas.
A Associação Moriá declarou ter sido surpreendida pelas medidas cautelares e afirmou que está à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos necessários.
Operação e medidas judiciais
Deflagrada em 29 de julho, a Operação Korban cumpriu 16 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, Paraná, Goiás e Acre. Por decisão do ministro Flávio Dino, o sigilo das investigações foi derrubado, permitindo a divulgação dos elementos já analisados pela Polícia Federal. O ministro também determinou o bloqueio de contas e o sequestro de bens de empresas envolvidas, no valor de até R$ 25 milhões