O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta quarta-feira (6) que o Pix deve continuar sendo um serviço público sob gestão da autoridade monetária. A declaração foi feita durante a abertura do evento Blockchain Rio 2025, realizado na capital fluminense.
Na ocasião, Galípolo também afastou a ideia de que o Pix concorra diretamente com cartões de crédito e débito, destacando que os meios de pagamento coexistem e se complementam no ecossistema financeiro nacional.
Pix avança como infraestrutura pública e estratégica
Segundo o presidente do Banco Central, o Pix se consolidou como infraestrutura crítica para a inclusão financeira no Brasil. “O Pix produziu bancarização, inserindo pessoas no sistema”, afirmou.
A fala reforça a posição da instituição diante de debates internacionais, sobretudo nos Estados Unidos, onde o modelo brasileiro tem sido analisado como uma possível “ameaça” à hegemonia de empresas privadas de pagamentos, como Visa e Mastercard.
Com o crescimento acelerado do Pix desde seu lançamento em 2020, hoje o sistema já acumula mais de 858 milhões de chaves cadastradas, de acordo com dados do BC. Em um único dia, o Pix registrou 252 milhões de transações. Entre 2021 e 2024, a participação do sistema no total de pagamentos realizados saltou de 46% para 76%.
Crescimento dos cartões permanece estável, mesmo com avanço do Pix
Apesar da popularização do Pix, o volume de transações com cartões de débito, crédito e pré-pagos também cresceu no mesmo período. Dados comparativos indicam que:
- De 2009 a 2019, as transações com cartões de débito e pré-pago cresceram 16,5%;
- De 2020 a 2024, após o lançamento do Pix, esse crescimento foi de 18,8%;
- Para cartões de crédito, os índices passaram de 13,1% para 20,9%.
Esses números mostram que, segundo o BC, não há competição direta entre os meios. “O Pix e os cartões têm propostas diferentes e convivem no ecossistema de pagamentos”, pontuou Galípolo.
Estrutura pública evita conflitos e garante acesso democrático
Galípolo destacou que manter o Pix sob controle do Banco Central é essencial para garantir isonomia entre os participantes e evitar conflitos de interesse. “Imagine o conflito de interesses caso um incumbente pudesse retirar concorrentes do Pix”, alertou o presidente.
Ao defender a manutenção do sistema como infraestrutura pública nacional, o presidente reforçou o compromisso da autoridade monetária com a oferta de serviços seguros, gratuitos e acessíveis à população e aos pequenos negócios.
Legislação precisa acompanhar inovação no sistema financeiro
Além de reforçar o papel estratégico do Pix, Galípolo alertou para a necessidade de o Congresso Nacional avançar na legislação que permita ao Banco Central manter sua autonomia e capacidade de inovação tecnológica.
“O Banco Central precisa de um arcabouço legal e financeiro que nos permita seguir com nossas entregas à população”, afirmou.
A pauta ganha relevância no contexto de iniciativas recentes da instituição, como o Real Digital (Drex) e a ampliação de funcionalidades do Pix, incluindo parcelamento, agendamento e integração com serviços públicos.
Pix para empresas e contadores: benefícios e cuidados
O avanço do Pix não impacta apenas os consumidores, mas também o dia a dia de empresas e profissionais da contabilidade. A ferramenta reduziu custos de transação, eliminou intermediários e facilitou pagamentos instantâneos entre pessoas jurídicas e físicas.
Contadores devem orientar seus clientes sobre o uso correto do Pix, inclusive com atenção à escrituração contábil adequada dos recebimentos via Pix, cuidados com a segurança de dados bancários e correta classificação tributária, especialmente no caso de MEIs e empresas do Simples Nacional.
Impacto internacional e regulação da inovação
A adoção crescente do Pix no Brasil tem chamado a atenção de instituições estrangeiras. Nos Estados Unidos, há movimentações políticas investigando o modelo brasileiro como um potencial risco à competitividade de operadoras de cartões norte-americanas, especialmente diante da possibilidade de sua adoção por outros países.
Apesar disso, o modelo de pagamento instantâneo brasileiro é elogiado por sua eficiência, segurança e arquitetura pública, sendo estudado como referência para a criação de sistemas semelhantes no exterior.
Pix como modelo de inovação pública
A fala de Gabriel Galípolo reforça o entendimento de que o Pix não substitui, mas complementa outros meios de pagamento. Seu avanço como sistema público fortalece a inclusão financeira, promove redução de custos e inovação contínua no setor financeiro.
Com o volume crescente de transações e a confiança da população, o Pix se consolida como pilar estratégico da política monetária digital do Brasil. Para contadores, empresários e consumidores, entender sua evolução e implicações práticas é essencial para navegar com segurança e eficiência no novo cenário de pagamentos.