x

QUIET CRACKING

Quiet Cracking: o fenômeno silencioso que afeta profissionais

Exclusão gradual no trabalho mina reconhecimento, engajamento e saúde mental, mesmo sem afastamento físico do colaborador.

17/08/2025 11:00

  • compartilhe no facebook
  • compartilhe no twitter
  • compartilhe no linkedin
  • compartilhe no whatsapp
Quiet Cracking: exclusão silenciosa no trabalho

Quiet Cracking: o fenômeno silencioso que afeta profissionais

O mercado de trabalho tem registrado um fenômeno chamado “Quiet Cracking”, caracterizado por exclusão silenciosa de profissionais dentro das empresas. Diferente do “Quiet Quitting”, em que o funcionário se afasta conscientemente, o Quiet Cracking ocorre quando o trabalhador permanece fisicamente presente, mas perde reconhecimento, voz e pertencimento. Especialistas apontam que essa situação afeta carreira, engajamento e saúde mental, tornando-se um desafio crescente em diferentes níveis hierárquicos.

O termo “Quiet Cracking” — traduzido como “rachadura silenciosa” — descreve um processo invisível em que o colaborador gradualmente se distancia da empresa em termos emocionais e simbólicos. Joaquim Santini, especialista em cultura organizacional, explica que “o mais alarmante é que no Quiet Cracking, não é o funcionário que abandona o trabalho, mas o trabalho que silenciosamente abandona o sujeito”.

Diferente do Quiet Quitting, em que o desligamento é explícito, o Quiet Cracking é um desgaste silencioso. O funcionário continua presente, mas não se sente mais reconhecido ou valorizado pelo grupo e pela liderança.

Como o fenômeno afeta profissionais

O processo se manifesta por rompimento de três pactos fundamentais entre empresa e colaborador:

  1. Reconhecimento: ser visto e refletido no ambiente de trabalho;
  2. Confiança: ser ouvido e acolhido em suas demandas;
  3. Investimento afetivo: sentir-se valorizado e desejado na equipe.

Segundo Santini, quando esses pactos são violados, o profissional ocupa um “não-lugar”, perdendo protagonismo, engajamento e pertencimento. Adriano Lima, ex-CHRO e especialista em cultura corporativa, afirma que isso pode ocorrer com qualquer nível hierárquico, do estagiário ao executivo C-level, e resulta de liderança frágil, cultura permissiva e falta de habilidade em resolver conflitos.

Impactos na saúde mental e no desempenho

Andrea Deis, psicóloga e neurocientista, destaca que o Quiet Cracking não é apenas um problema emocional, mas também fisiológico. A exclusão social ativa regiões cerebrais associadas à dor física, podendo gerar baixa autoestima, perda de confiança e risco de burnout.

“Antes, esses casos eram vistos como falha individual do profissional, mas estudos recentes mostram que é uma exclusão sistemática, cujos efeitos se estendem à carreira e à saúde do colaborador”, explica Deis.

Uma pesquisa da TalentLMS, realizada nos Estados Unidos com 1.000 profissionais em março de 2025, apontou que 54% já vivenciaram exclusão silenciosa, e 20% relatam ocorrências frequentes. Esses profissionais têm 29% menos acesso a treinamentos, 47% percebem que não são ouvidos pelos gestores e 68% sentem-se menos valorizados.

Sinais de alerta do Quiet Cracking

O fenômeno apresenta indicadores claros:

  • Redução da proatividade: queda no entusiasmo e na execução de tarefas;
  • Isolamento progressivo: afastamento de colegas e equipes;
  • Perda de criatividade e motivação: diminuição da inovação;
  • Procrastinação e apatia emocional: adiamento de tarefas e desconexão com o trabalho.

Segundo especialistas, esses sinais surgem em ambientes com lideranças frágeis, falta de transparência e práticas tóxicas, como assédio moral.

Consequências para a carreira e o ambiente corporativo

O Quiet Cracking é considerado uma forma de pré-turnover: o vínculo do funcionário com a empresa já está comprometido, mas ele permanece fisicamente no cargo. Santini alerta que isso gera desengajamento coletivo, afeta a colaboração, reduz inovação e prejudica o clima organizacional.

Profissionais talentosos também podem ser vítimas. Lima ressalta que “muitas vezes, colaboradores são ‘congelados’ por política interna, conflitos de ego ou por representarem ameaça a alguém em posição superior”.

Estratégias para prevenção

Prevenir o Quiet Cracking exige ação estratégica e contínua:

  • Formação de líderes humanos: gestores devem cultivar transparência e escuta genuína;
  • Restaurar pactos emocionais: reconhecer e valorizar colaboradores, reforçando pertencimento;
  • Sistemas de reconhecimento justos: garantir oportunidades de crescimento equitativas;
  • Canais de denúncia eficazes: permitir comunicação de assédio moral e exclusão sem retaliação.

Santini afirma que “trabalho não é só execução de tarefas: envolve vínculo, identidade e espaço de pertencimento compartilhado”. Lima acrescenta que líderes devem abordar conflitos diretamente, dar feedbacks claros e criar oportunidades justas, evitando favoritismos.

Como lidar com o Quiet Cracking

Para profissionais afetados, Deis recomenda:

  1. Observar e registrar: documentar episódios de exclusão para ter clareza do que ocorre;
  2. Comunicar-se de forma clara: expressar sentimentos, valor do trabalho e necessidades;
  3. Acionar liderança ou RH: buscar mediação e soluções dentro da empresa;
  4. Reavaliar a permanência: se a situação não mudar, considerar mudança de emprego para preservar saúde e autoestima.

Essas ações podem reduzir os efeitos negativos do Quiet Cracking, protegendo saúde mental e garantindo que o profissional continue engajado.

O Quiet Cracking evidencia que a exclusão silenciosa no ambiente corporativo é um problema sério, com impactos amplos na carreira, engajamento e bem-estar dos colaboradores. A conscientização, prevenção e intervenção por parte das empresas e lideranças são essenciais para garantir ambientes de trabalho saudáveis, inclusivos e produtivos.

O fenômeno reforça a importância de práticas de gestão que priorizem reconhecimento, comunicação transparente e desenvolvimento de líderes capazes de criar vínculos sólidos com suas equipes.

Com informações da Exame

Leia mais sobre

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

ARTICULISTAS CONTÁBEIS

VER TODOS

O Portal Contábeis se isenta de quaisquer responsabilidades civis sobre eventuais discussões dos usuários ou visitantes deste site, nos termos da lei no 5.250/67 e artigos 927 e 931 ambos do novo código civil brasileiro.

Utilizamos cookies para ajudar a melhorar a sua experiência de utilização. Ao utilizar o website, você confirma que aceita a sua utilização. Conheça a nossa política de utilização de cookies

1999 - 2025 Contábeis ® - Todos os direitos reservados. Política de privacidade