As investigações da Operação Ícaro, que apuram as suspeitas de corrupção envolvendo a rede Ultrafarma e auditores fiscais da Secretaria da Fazenda de São Paulo, ganharam um novo capítulo nesta quarta-feira (20) após uma suposta confissão do auditor fiscal Artur Gomes da Silva Neto ter sido encontrada.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) trata uma carta manuscrita e redigida pelo auditor como confissão, apontando seu envolvimento em um esquema de propinas que pode ultrapassar R$ 1 bilhão. O documento, encontrado em sua residência, foi decisivo para a Justiça decretar a prisão preventiva do servidor.
Os promotores do caso consideram o conteúdo da carta como uma das principais evidências contra o auditor e reforça a materialidade do crime, que já teria sido comprovada pela troca de e-mails entre os envolvidos.
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O que diz a carta encontrada
A carta, que teria sido redigida pelo auditor, é de 3 de março deste ano e contém três páginas e detalha, entre outros pontos, sua insegurança ao assinar documentos relacionados a “novas liberações de imposto” e pede “orientação espiritual”.
“Da outra vez eu perguntei para os guias do seu pai. Eles disseram que eu podia assinar, podia trabalhar com esse empresário. E deu esse problema imenso. Não posso mais fazer outro trabalho aqui e depois correr risco e ter que fazer trabalho espiritual de novo”, escreveu.
Em outra parte da carta, o auditor teria escrito: “O perigo é meu nome ficar mais uma vez exposto. Pode correr o risco de ter qualquer outra denúncia contra esse empresário no futuro. Ainda tem o risco de pessoas de dentro da Secretaria da Fazenda ficarem vasculhando isso”.
Depois, ainda escreve “Preciso ter certeza que os advogados não vão fazer nenhum tipo de denúncia”.
Para o Ministério Público, a carta encontrada não apenas confirma a participação do auditor no esquema de propinas, mas também evidencia sua intenção de manter sigilo para garantir a continuidade das práticas ilegais. O juiz acolheu o argumento dos promotores e destacou que o documento “demonstra e confirma o esquema criminoso operado por Artur”.
Além da carta, a operação resultou na apreensão de documentos, celulares e computadores, que agora passam por perícia. A decisão sobre a prisão preventiva está a cargo do juiz Paulo Fernando Deroma de Mello, da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro de São Paulo, responsável por autorizar a Operação Ícaro.