Operadores do mercado financeiro, contadores, advogados, fornecedores de armas e até mergulhadores têm sido identificados como associados do Primeiro Comando da Capital (PCC). Diferentemente dos integrantes tradicionais, esses profissionais não passam pelo batismo da facção nem dedicam-se exclusivamente às atividades criminosas, mas se tornaram peças-chave na expansão do grupo, que movimenta grandes quantias com o tráfico internacional de drogas.
Segundo promotores especializados, a colaboração desses profissionais é estratégica para que o PCC consiga operar de forma mais sofisticada. A facção chega a movimentar até uma tonelada de cocaína por mês com destino à Europa, exigindo conhecimentos específicos em finanças e legislação para evitar fiscalização.
Como os associados do PCC atuam
Os associados do PCC fornecem serviços que a facção não conseguiria executar sozinha. Entre eles estão gerentes e ex-gerentes de bancos, que atuam na movimentação de recursos financeiros. O promotor Lincoln Gakiya explica que esses profissionais recebem valores superiores aos pagos pelo mercado financeiro, enquanto o PCC obtém lucro sem precisar realizar pessoalmente essas operações complexas.
Apesar de não serem membros oficiais, os associados do PCC respondem pelos mesmos crimes que a facção comete, caso sejam identificados pelas autoridades. Eles devem seguir regras rigorosas do grupo, incluindo códigos de silêncio, sob pena de retaliação severa.
A Polícia Federal detalha que a associação se dá tanto com membros da base quanto com líderes da facção.
“Os associados têm atuação autônoma, mas mantêm negócios com membros, beneficiando-se dos recursos logísticos, financeiros e humanos do PCC em nível nacional e internacional”, afirmou a Diretoria de Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da PF.
O perfil desses profissionais é distinto do dos membros tradicionais do PCC. Enquanto os criminosos mais antigos possuem baixa escolaridade e estão ligados a crimes violentos, como roubos a bancos, os associados do PCC possuem habilidades técnicas e conhecimento de setores específicos.
Segundo as autoridades, essas pessoas podem contribuir em áreas como: movimentação financeira, lavagem de dinheiro, logística internacional, constituição de empresas de fachada e até operações com criptomoedas. O objetivo é permitir que os líderes do PCC operem de forma discreta e segura, sem exposição direta.
O promotor Lincoln Gakiya destaca que essa colaboração é essencial para o crescimento internacional do PCC.
“A facção se organiza como uma empresa. Para acompanhar sua evolução extraordinária, precisou da colaboração de profissionais de determinados setores”, explicou.
Impacto da atuação de associados do PCC
O envolvimento de profissionais especializados elevou a sofisticação das operações da facção, tornando o combate policial mais complexo. Segundo Gakiya, focar nas pessoas que fornecem expertise e apoio logístico ao PCC é crucial para aumentar o custo operacional do crime organizado e dificultar sua expansão.
“Não é possível acabar completamente com essa modalidade de crime, mas podemos encarecer o negócio e reduzir sua eficiência, porque não há mão de obra qualificada suficiente”, explicou o promotor.
Além disso, as investigações visam não apenas a responsabilização criminal, mas também a quebra da estrutura financeira da facção, reduzindo sua capacidade de atuação internacional.
A presença de associados do PCC evidencia a transformação da facção em uma organização altamente estruturada e profissionalizada. Com a colaboração de especialistas de diferentes setores, o grupo consegue operar em escala internacional, movimentando bilhões em recursos do tráfico de drogas.
A atuação desses profissionais, embora não integrada oficialmente à facção, é essencial para a execução de operações financeiras complexas e logísticas, aumentando a sofisticação e a amplitude do crime organizado. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público seguem com o objetivo de desarticular a facção, responsabilizar colaboradores e limitar sua capacidade operacional e financeira.
Com informações adaptadas da Folha de S. Paulo