Vários países estão discutindo a redução de feriados como estratégia para aliviar pressões orçamentárias e estimular o crescimento econômico. A medida, defendida por governos da Europa e dos Estados Unidos, também gera questionamentos de especialistas, que apontam a importância do tempo livre para o bem-estar e a produtividade dos trabalhadores.
Em julho, o primeiro-ministro francês François Bayrou sugeriu eliminar a Segunda-feira de Páscoa e o Dia da Vitória na Europa, celebrado em 8 de maio, da lista dos 11 feriados anuais da França. A proposta provocou reações contrárias de diferentes lideranças políticas no país.
A iniciativa foi apresentada como uma forma de aliviar as contas públicas. Situações semelhantes já ocorreram em outros países. A Eslováquia cortou um feriado em 2024 para melhorar sua situação fiscal, e a Dinamarca havia feito o mesmo no ano anterior, com o objetivo de ampliar os recursos para defesa.
Nos Estados Unidos, o debate também ganhou espaço. Em junho de 2025, o presidente Donald Trump criticou a quantidade de feriados no país, alegando que o excesso teria impacto negativo de bilhões de dólares para a economia. A declaração ocorreu no dia 19 de junho, o Juneteenth, data que celebra o fim da escravidão e que se tornou feriado nacional em 2021.
Evidências sobre produtividade são limitadas
Estudos mostram que a relação entre redução de feriados e crescimento econômico é pouco significativa. Pesquisas indicam que fatores como eficiência da mão de obra, investimento em capital, qualificação profissional e tecnologia têm peso maior na produtividade.
Uma análise de 2021, conduzida por pesquisadores da América Latina, concluiu que os feriados podem estimular a demanda em alguns setores do Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, quando os dias de descanso coincidem com fins de semana e não são compensados, há um leve aumento no indicador.
Organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central da Alemanha, identificaram que o crescimento do PIB em função da redução de feriados é pequeno e proporcionalmente inferior ao aumento no número de dias úteis.
Apesar da possibilidade de maior arrecadação tributária, há o contraponto de que períodos de descanso contribuem para o bem-estar dos trabalhadores. A ausência de pausas suficientes pode levar ao esgotamento físico e mental, comprometendo a produtividade no longo prazo.
Debate envolve também férias remuneradas
A discussão sobre a redução de feriados se insere em um contexto mais amplo sobre a jornada de trabalho e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Países como Alemanha, Reino Unido e Holanda têm buscado alternativas para reverter a queda nas horas médias trabalhadas, enquanto enfrentam crescimento econômico lento.
Somando feriados e férias remuneradas, a maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) oferece entre 30 e 36 dias de folga anual. Áustria, Dinamarca e Finlândia estão entre os que mais concedem descanso, sem que isso tenha impedido bons desempenhos no PIB per capita.
Já os Estados Unidos não possuem férias remuneradas obrigatórias, embora contem com 11 feriados oficiais. Na prática, setores como turismo, varejo e transporte seguem em funcionamento durante essas datas, e muitos trabalhadores não recebem remuneração adicional.
Especialistas em políticas trabalhistas argumentam que as economias que concedem mais dias de descanso conseguem manter bons índices de crescimento e, ao mesmo tempo, garantir melhores condições de vida para os trabalhadores.
Produtividade depende de múltiplos fatores
A análise econômica indica que os impactos da redução de feriados variam conforme o setor. Segmentos como hotelaria e comércio costumam registrar aumento de atividade nessas datas, o que ajuda a compensar eventuais perdas em outros ramos.
No caso dos Estados Unidos, de grande dimensão territorial, a interrupção generalizada das atividades em um feriado pode trazer efeitos mais relevantes para a economia. Ainda assim, os especialistas reforçam que produtividade não se resume à quantidade de dias ou horas trabalhadas.
Experiências em países europeus mostram que é possível manter a produção mesmo com jornadas reduzidas, desde que haja eficiência e boa organização no uso do tempo. Nesses cenários, a redução de horas trabalhadas pode até gerar benefícios sociais e econômicos, ao proporcionar mais tempo livre para a população.
Com informações do g1