O Banco Central (BC) mantém atualmente nove servidores responsáveis pela segurança do Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI), infraestrutura que sustenta o Pix. O sistema movimenta quase R$ 2 trilhões por mês e atende mais de 160 milhões de pessoas, por meio de 919 participantes —sendo 204 diretos e 715 indiretos.
Segundo auditores do BC, a baixa quantidade de servidores na área de segurança representa um dos principais pontos de fragilidade na supervisão do sistema, já que cada funcionário é responsável por acompanhar mais de cem instituições.
Prejuízos recentes e brechas de segurança
Nos últimos três meses, ataques virtuais desviaram cerca de R$ 1,5 bilhão, valor absorvido pelas instituições financeiras. Parte das fraudes ocorreu por meio das chamadas Prestadoras de Serviços de Tecnologia da Informação (PSTIs), empresas que interligam instituições de pagamento ao Pix.
Atualmente, cerca de 150 instituições utilizam 9 PSTIs autorizadas pelo Departamento de Tecnologia da Informação (Deinf). Dois servidores analisam os pedidos de cadastro dessas empresas, mas o acompanhamento posterior fica limitado devido a outras demandas internas.
Novas medidas anunciadas pelo BC
Na última sexta-feira (5), o BC anunciou medidas para reforçar a segurança do sistema financeiro:
- Limite de R$ 15 mil para operações de TED e Pix realizadas por instituições de pagamento não autorizadas ou conectadas por PSTIs;
- Exigência de capital mínimo de R$ 15 milhões para credenciamento de prestadores;
- Antecipação do prazo final de 2029 para 2026 para que instituições de pagamento solicitem autorização de funcionamento.
As transações que excederem o teto de R$ 15 mil serão bloqueadas automaticamente pelo sistema do BC.
Estrutura interna e prioridades
Segundo servidores, há dificuldades para manter monitoramento ininterrupto do Pix, já que o BC, como autarquia, está proibido de pagar horas extras ou adicional noturno. A alternativa tem sido escalar equipes de sobreaviso.
Hoje, 11 servidores estão dedicados à agenda evolutiva do Pix, incluindo o lançamento do Pix parcelado; 12 atuam na operação diária; e apenas 9 permanecem responsáveis pela segurança. Em episódios anteriores, como o vazamento de dados em 2023, toda a equipe de pagamentos instantâneos foi deslocada para a área de segurança, medida que não se repetiu em 2025.
Debate sobre autonomia do Banco Central
A Associação Nacional dos Auditores do Banco Central do Brasil (ANBCB) defende a aprovação da PEC nº 65/2023, conhecida como PEC do Pix, que propõe transformar o BC em instituição de natureza especial, com autonomia técnica, administrativa, orçamentária e financeira.
Segundo a entidade, a mudança permitiria maior flexibilidade na contratação de funcionários e investimentos em tecnologia, liberando a instituição das amarras do Orçamento federal.
Nos últimos dez anos, o quadro de servidores do BC foi reduzido em 33%, com 1.693 funcionários a menos em atividade.
Concursos e orçamento
O Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) informou que o atual governo retomou concursos públicos para o BC. Em 2024, foram abertas 100 vagas imediatas (já nomeadas) e mais 200 para cadastro de reserva.
Entretanto, servidores afirmam que 6 dos 100 contratados já pediram demissão para assumir outros cargos. O MGI também destacou que novos concursos estão previstos para 2025 e 2026.
A Fazenda apontou que o orçamento do BC cresceu 58,6% de 2024 para 2025, passando de R$ 316,4 milhões liquidados para R$ 502 milhões autorizados.
Em entrevista no dia 3 de setembro de 2025, o ministro Fernando Haddad afirmou que há entendimento com a Casa Civil e o Planalto em favor de “certos aspectos da PEC que fortalece a autonomia do BC”.
“Eu penso que o Banco Central precisa ter orçamento próprio para fazer frente a despesas que não tem condição de fazer, dentre as quais o fortalecimento da parte regulatória”, declarou Haddad. “O banco autorizou um sem número de instituições financeiras que não estão sendo supervisionadas, sobretudo à luz dos golpes que estão surgindo e a infraestrutura do Pix.”
Supervisão do sistema financeiro
A falta de servidores também impacta a supervisão das 1.919 instituições financeiras reguladas pelo BC. Dos 1.374 grupos econômicos monitorados, 810 utilizam declaração simplificada e 103 estão isentos de prestação de contas.
Enquanto vários servidores acompanham os cinco maiores bancos —Itaú, Banco do Brasil, Caixa, Bradesco e Santander—, em alguns casos um único servidor fiscaliza até 70 fintechs.
Esse cenário contribuiu para episódios recentes, como o caso da Soffy, que movimentou R$ 270 milhões durante ataque hacker, e o BK Bank, investigado por suspeita de lavagem de dinheiro para o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Reação do setor financeiro
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) elogiou o sucesso do Pix, mas defendeu que o BC fortaleça a supervisão das instituições de menor porte, consideradas potenciais portas de entrada para atividades criminosas.
A entidade solicitou a restrição do fluxo financeiro de empresas não reguladas —pleito que foi atendido pelo BC nas medidas anunciadas em setembro.
O Banco Central enfrenta o desafio de conciliar o crescimento do Pix, a modernização de suas operações e a limitação de pessoal e orçamento. Enquanto o governo aponta aumento de recursos, servidores alertam para fragilidades na segurança e defendem a aprovação da PEC do Pix como alternativa estrutural.
Com informações da Folha de S. Paulo