Seis em cada dez trabalhadores brasileiros já pensaram em pedir demissão neste ano, segundo a 3ª edição da pesquisa Engaja S/A, índice de engajamento corporativo desenvolvido pela Flash em parceria com a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP).
O levantamento revela que 61% dos profissionais estão desengajados com o trabalho — o menor nível de engajamento registrado nos últimos três anos. O resultado é atribuído a fatores como cansaço, desconfiança e falta de perspectivas de crescimento, que refletem ambientes corporativos rígidos e pouca flexibilidade para equilibrar vida pessoal e profissional.
Falta de autonomia e escuta agrava desmotivação
De acordo com o estudo, as empresas reduziram espaços de escuta e flexibilidade justamente quando os profissionais passaram a valorizar mais autonomia, propósito e desenvolvimento de carreira.
O retorno ao trabalho presencial e jornadas intensas também contribuíram para o desengajamento: apenas 39% dos trabalhadores afirmam estar motivados nas empresas onde atuam.
Entre os que pensaram em pedir demissão em 2025, 23% dizem cogitar essa decisão com frequência. Além disso, 64% já se candidataram a novas vagas e 42% chegaram a participar de entrevistas.
“Embora a remuneração seja um fator relevante, os resultados do estudo indicam que ela não compensa deficiências no clima organizacional nem na qualidade da gestão. Fatores como relações de confiança, oportunidades de desenvolvimento e ambiente saudável continuam sendo os principais determinantes do engajamento”, afirma Renato Souza, professor da FGV-EAESP e coautor da pesquisa.
Aspectos com pior avaliação
A pesquisa avaliou diversos indicadores de satisfação dos trabalhadores, com notas de 1 a 5. Os itens com pior desempenho foram:
- Tempo para projetos pessoais: 3,13
- Bônus e remuneração variável: 3,28
- Mobilidade interna: 3,33
- Capacitação e desenvolvimento: 3,42
- Valorização do colaborador: 3,42
- Benefícios financeiros: 3,47
- Cultura de feedback e coaching: 3,50
- Investimento nos colaboradores: 3,48
- Benefícios ligados à saúde: 3,51
- Salário adequado à posição: 3,53
Os itens que mais pioraram nos últimos três anos foram “minhas opiniões são valorizadas”, “tempo para projetos pessoais”, “autonomia” e “flexibilidade”.
Desengajamento gera prejuízo bilionário
Pela primeira vez, o estudo calculou o impacto financeiro do desengajamento. Segundo a FGV, a falta de motivação no ambiente corporativo pode causar perdas de até R$ 77 bilhões por ano.
Desse total, R$ 71 bilhões decorrem da rotatividade de profissionais, principal fator de custo. O presenteísmo — quando o colaborador está fisicamente presente, mas improdutivo — representa R$ 6,3 bilhões em prejuízos anuais.
Metade dos trabalhadores desmotivados admite perder até duas horas por dia de produtividade por falta de engajamento.
Jornadas longas afetam saúde mental
O estudo também aponta uma relação direta entre saúde emocional e motivação. Um em cada cinco trabalhadores relata ansiedade, insônia ou fadiga diárias.
Entre os jovens da Geração Z, 25% dizem sentir ansiedade todos os dias — contra 7% dos Baby Boomers, faixa etária com os maiores índices de engajamento (45%).
A carga horária também influencia o resultado. Trabalhadores com jornada de quatro dias por semana têm 53% de engajamento, 14 pontos acima da média nacional. Já escalas longas, como 6x1 e 12x36, estão associadas a maiores índices de ansiedade e fadiga.
Percepção por jornada
- Escala 12x36:
- 23% relatam ansiedade diária
- 22% sofrem com fadiga
- 23% têm insônia
- 14% apresentam sintomas de depressão
- Escala 6x1:
- 22% relatam ansiedade diária
- 21% têm insônia
- 23% sentem tensão constante
“Esse quadro lança um alerta para empresas e para o debate público sobre a redução da jornada no Brasil. Mesmo quando há engajamento, ele vem acompanhado de sofrimento e desgaste”, afirma Renato Souza, da FGV-EAESP.
Lideranças também estão esgotadas
O levantamento identificou uma queda expressiva no engajamento entre executivos e gestores.
Entre os líderes, o índice caiu de 72% para 65% em um ano — a maior retração entre todos os níveis hierárquicos.
Já entre gerentes, o engajamento passou de 54% para 49%.
Além da desmotivação, há sinais claros de esgotamento emocional:
- 25% dos executivos relatam ansiedade diária;
- 21% sofrem com insônia;
- 78% enfrentam algum grau de ansiedade;
- 74% têm episódios frequentes de fadiga.
“Aqueles que são considerados os principais responsáveis por engajar suas equipes apresentam sinais de exaustão. A pirâmide do engajamento pode estar sendo construída sobre uma base frágil”, avalia Renato Souza.
O custo médio anual do desengajamento da liderança é o mais alto entre todos os grupos:
- R$ 72,4 mil por executivo;
- R$ 8,9 mil por gerente;
- R$ 561 por colaborador.
A pesquisa Engaja S/A aponta que a crise de engajamento corporativo no Brasil vai além da remuneração, envolvendo autonomia, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e saúde emocional.
Os resultados reforçam a necessidade de políticas organizacionais mais humanas, que conciliem produtividade e bem-estar.
Com informações do Portal g1













