O setor contábil brasileiro enfrenta um desafio crescente: a escassez de profissionais qualificados. Esse fenômeno, já visível nas empresas de contabilidade, ameaça não apenas a entrega de obrigações fiscais e contábeis, mas também a capacidade desses escritórios de evoluir para uma contabilidade mais estratégica e consultiva.
A reforma tributária deverá intensificar esse problema. A transição para um novo modelo tributário — potencialmente com regras mais complexas, convivência de sistemas e novas obrigações — exige profissionais com especialização. Mas, para muitos escritórios, já está difícil encontrar talentos com o conhecimento técnico atual.
Para se ter uma ideia, pesquisa realizada pela Robert Half, especializada em recrutamento e consultoria de talentos e divulgada pela Fenacon, mostrou que mais da metade das empresas (53%) devem contratar ao menos três colaboradores para lidar com a reforma tributária, que será implementada entre 2026 e 2033. O levantamento foi feito com 100 profissionais que atuam diretamente com as mudanças da reforma. Dentre os colaboradores mais procurados estão analistas tributários e contábeis, advogados tributaristas, especialistas em compliance tributário, analistas de sistemas de ERP e gerentes de tributos.
É nesse cenário que a automação contábil surge como uma saída poderosa. Ao digitalizar processos repetitivos — lançamentos contábeis, apuração de tributos, conciliações, obrigações acessórias —, o setor pode liberar os profissionais para funções de maior valor agregado, como consultoria, planejamento tributário e análise estratégica. Um estudo acadêmico recente reforça essa tendência: 100% dos respondentes afirmaram que a automação já substituiu alguma atividade que antes era manual.
Soluções integradas para contabilidade, fiscal, folha de pagamento e ERP, além de investimentos na automação e na transformação digital, são importantes aliados do setor.
Por meio da automação, os escritórios conseguem reduzir drasticamente os fornecedores de dados contábeis, integrando automaticamente lançamentos fiscais, dados de eSocial, apurações de tributos e informações financeiras. A automação permite eliminar até 90% dos fornecedores. Isso porque a rotina de integração/contabilização com o sistema garante que lançamentos fiscais sejam integrados automaticamente à contabilidade, diminuindo a necessidade de múltiplos fornecedores externos para tarefas manuais repetitivas.
De fato, a escassez de profissionais contábeis no Brasil é um risco real para o futuro do setor, especialmente diante de mudanças regulatórias. Mas, paradoxalmente, é também um motor para a transformação digital da contabilidade. A automação, no entanto, pode mitigar o problema de mão de obra — eliminando redundâncias, concentrando dados e processos — e ainda elevar o papel do contador para além do operacional. No fim, poderia haver menos gente fazendo lançamentos manuais, mas mais analistas olhando os números, interpretando-os e ajudando empresas a crescer de forma mais estratégica.
A escassez de profissionais não é apenas um problema de recrutamento. É um sinal claro de que o modelo contábil tradicional chegou ao limite.
Automação, integração de dados e uso inteligente de tecnologia não são mais diferenciais, são pré-requisitos para que escritórios consigam operar com eficiência e se posicionar como parceiros estratégicos de empresas que buscam competitividade em um ambiente regulatório complexo.
No fim, haverá menos gente fazendo lançamentos manuais, e mais profissionais pensando, interpretando e orientando negócios.
A contabilidade está mudando — e quem se adaptar agora sairá na frente.
Fonte: Guilherme Pellegrini, diretor de operações da Questor











