Os peemedebistas, que são maioria e controlam o comando do Senado, condicionam a aprovação de um projeto ao outro.
Governo 'ainda não jogou a toalha', diz ministra sobre reforma do ICMS
O Ministério da Fazenda pediu à Casa Civil para retirar o projeto de tramitação depois que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) decidiu incluir em seu relatório proposta que poderia reduzir as dívidas em até 45%. Segundo o governo, isso a fere a Lei de Responsabilidade Fiscal.
No Senado, o PMDB atrela a votação da reforma do ICMS ao projeto do indexador da dívida e à Medida Provisória que cria fundo de compensação para as perdas de arrecadação decorrentes da redução nas alíquotas do ICMS. A bancada do partido decidiu hoje sustar as discussões até que o governo anuncie sua posição final.
"Cabe ao Executivo manter ou não a retirada do projeto. Se não tivermos a sua tramitação, isso é um tripé. Sem isso, não tem como considerar a questão do ICMS. O projeto do ICMS está em stand by até que o governo se pronuncie", disse o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).
Pelo projeto, a dívida, que hoje é corrigida com base no IGP-DI mais juros que variam de 6% a 9% ao ano, passaria a ser atualizada pelo IPCA mais 4% ao ano ou pela Selic --o que for menor. O relatório de Cunha estava pronto para ser votado na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.
A decisão dos peemedebistas é uma espécie de desagravo a Cunha, que foi desautorizado pelo Palácio do Planalto com a decisão do governo de suspender a tramitação do projeto. Líder do PMDB na Câmara, Cunha irritou o governo na MP dos Portos. Primeiro, por tentar mudar o texto do Planalto e, depois, dificultar a votação na Câmara.
A ordem no Planalto é tentar isolar Cunha dentro da bancada peemedebista, que votou praticamente unida contra o governo na apreciação da MP dos Portos.
Encaminhado no início deste ano pela Fazenda, o projeto atendia uma reivindicação de governadores e prefeitos para tentar reduzir o peso do endividamento ao longo dos últimos anos. Entre eles está Fernando Haddad (PT), prefeito de São Paulo, que dizia esperar ver o projeto aprovado até junho.
IMPASSE
Apesar do gesto do PMDB, não há acordo no Senado para a votação do projeto que muda as alíquotas do ICMS.
Aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos, ele ainda precisa passar pelo plenário da Casa antes de entrar em vigor. O governo discorda com as mudanças promovidas pela comissão no texto, o que representa uma derrota para as regiões Sudeste e Sul do país.
A alteração que mais incomodou ao Planalto ampliou o alcance da alíquota de 7% de ICMS interestadual sobre os produtos que deixam as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e no Estado do Espírito Santo para serem vendidos no resto do país.
O governo havia concordado em fixar o percentual de 7% nestas regiões apenas para produtos industrializados e agropecuários, mas uma emenda aprovada ampliou o benefício para comércio e serviços, que originalmente ficariam com alíquota de 4%.
A modificação deixa em desvantagem as regiões Sul e Sudeste, que terão alíquota de 4%. O governo tentará reverter essa alteração para dar sobrevida ao projeto.
Gabriela Guerreio
de Brasília
Fonte: Folha de São Paulo