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A bela e eficiente Gestão Empresarial ensinada no ambiente acadêmico X a real Gestão Empresarial das pequenas empresas

O artigo aborda, a necessária adaptação dos gestores preparados para gerirem grandes corporações à realidade da gestão das micro e pequenas empresas.

25/10/2018 09:13:59

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A bela e eficiente Gestão Empresarial ensinada no ambiente acadêmico X a real Gestão Empresarial das pequenas empresas

A bela e eficiente Gestão Empresarial ensinada no ambiente acadêmico X a real Gestão Empresarial das pequenas empresas

Hoje escreverei sobre um tema, que apesar de se passar no ambiente acadêmico, atinge diretamente as micro e pequenas empresas brasileiras.

Há tempos, venho percebendo em muitos estudantes universitários, um sentimento de descontentamento relativo ao aprendizado de gestão empresarial.

Relatos desses estudantes, me conscientizaram de que boa parte desse descontentamento vem do sentimento “Aprender Grande e Aplicar Pequeno”.

Mas o que vem a ser o “Aprender Grande e Aplicar Pequeno”?

Sem meias palavras, o “Aprender Grande” é aprender a gestão voltada para as grandes empresas, que possuem muitos recursos e colaboradores à disposição de seus gestores, e o “Aplicar Pequeno” é ter que na prática, gerenciar microempresas onde a quantidade de funcionários raramente ultrapassa 20 pessoas e os recursos normalmente são limitados.

O “Aprender Grande”, pode ser confirmado ao lermos boa parte dos livros que tratam de Gestão Empresarial e também ao assistirmos as aulas que são preparadas tendo como fonte, esses mesmos livros e autores.

Nesses livros e aulas, o aprendizado é sempre robusto. Neles, os futuros gestores são ensinados a lidar com muitos recursos e pessoas e as empresas utilizadas como exemplos, possuem vários departamentos, clientes e fornecedores.  Departamentos como o de Marketing, onde os futuros gestores aprendem, por exemplo, a aplicar o conhecimento adquirido em sala de aula, relativo aos 4ps, “tomando” importantes decisões sobre o preço, a praça, o produto e a promoção de suas grandes empresas.

Os livros e aulas também ensinam aos alunos, a gerirem uma grande quantidade de pessoas, descrevendo seus cargos e funções, estudando os muitos benefícios a serem ofertados aos funcionários das grandes empresas, além de ensiná-los a liderarem equipes multidisciplinares e resolverem seus graves conflitos.

Muitos autores e aulas ensinam ainda, como os estudantes poderão gerir as complexas finanças de suas grandes empresas, utilizando como base relatórios contábeis sintéticos e analíticos, contendo uma infinidade de contas a serem analisadas. O aprendizado inclui também, decisões arriscadas, que poderão ser tomadas em lindas de reuniões, onde lhes serão apresentados gráficos de índices e de oscilações de mercado.

Imaginemos a frustação desses estudantes, ao saírem das universidades sedentos para aplicarem seus conhecimentos em grandes empresas, e na realidade terem que gerir e trabalhar em microempresas, onde nem sempre serão utilizados todos os conhecimentos adquiridos.

Para entendermos o dilema dos estudantes ao terem que aprender grande e aplicar pequeno, precisamos conhecer pesquisas realizadas por órgãos como o SEBRAE, que apontam que no Brasil 98,5% das organizações são formadas por micro e pequenas empresas e que essas pequenas empresas, são responsáveis por 54,5% dos empregos formais. Portanto, de acordo com essas pesquisas, as chances de nossos estudantes trabalharem em pequenas empresas são bem maiores do que as chances de trabalharem em grandes organizações.

Agora ficou fácil entender o problema desses estudantes: Como adaptar a grande gestão aprendida na faculdade a uma pequena gestão empresarial? Como gerir uma microempresa, onde o mesmo gestor que cuida das finanças, cuida também das pessoas e da administração? Como administrar recursos escassos como a falta de dinheiro para aplicar em marketing ou em comunicação, temas tão importantes que foram assuntos de um semestre inteiro?

Em suas micro e pequenas empresas, as decisões financeiras, não são tomadas mediante a análise de um grupo de demonstrações contábeis elaboradas conforme a legislação 11638/07 (Lei das SAs), mas sim, com a leitura de demonstrativos contábeis simplificados, que seguem a resumida ITG 1000 (Modelo Contábil para Microempresas e Empresas de Pequeno porte).

Entendendo perfeitamente a dificuldade desses alunos, procuro trabalhar em sala de aula, com o maior foco possível na administração de pequenas empresas, desde que, o que ensino não “fuja” da grade exigida pela universidade.

Além de procurar focar no ensinamento da gestão de pequenas empresas, acredito que posso contribuir mais um pouco, relatando aqui como aprendi de forma empírica a adequar meu aprendizado de grande gestão em pequena gestão:

Levou tempo para que eu adaptasse o que aprendia na faculdade ao o dia a dia do meu pequeno escritório. Durante esse tempo, aprendi que apesar de não poder aplicar na íntegra todo o aprendizado enriquecedor que tive, muito podia ser aproveitado, mas de forma resumida e simples.

Um exemplo, são os 4ps do marketing, com os quais tive contato por meio da empresa terceirizada que o pequeno escritório contratou para uma breve campanha.

Minha experiência também me permitiu saber, que a gestão de pessoas numa pequena empresa deve ser mais pessoal do que a gestão de pessoas nas grandes corporações e, sendo assim, regras padronizadas de tratamento precisam ser evitadas, para que não haja desconforto na diminuta equipe. E por desconforto, podemos entender o risco da perda de colaboradores, sempre considerados cruciais, devido ao número reduzido de funcionários.

Nas PMEs, a perda não programada de um funcionário, significa investimento em tempo e dinheiro para nova contratação e treinamento. Tempo e dinheiro que, por vezes, a pequena empresa não tem.

Aprendi ainda, que apesar de delimitarmos cargos e funções na pequena empresa, muitas vezes uma mesma pessoa desempenha funções diversas, e isso nem sempre deve ser interpretado como algo negativo. Colaboradores que ocupam mais de uma função (claro, que sendo remunerados para isso), acabam adquirindo experiências múltiplas, o que com certeza, os ajudará em suas vidas profissionais.

E a adaptação da Gestão Financeira para a pequena empresa?

Entendo que gestão financeira da pequena empresa, deva ficar a cargo de pessoas que se atentem a legislações contábeis e de mercado, específicas das PMEs. Essas legislações, utilizam regras menos complexas e se adaptam ao dia a dia da pequena empresa.  Igualmente importante é a análise da situação financeira, que deve ser feita conforme os padrões de retorno, liquidez e estrutura aceitáveis para pequenas empresas, que são diferentes dos padrões utilizados pelas grandes corporações.

Ah! E é importante que os futuros “pequenos” gestores de administração, de pessoas e de finanças saibam, que dificilmente passarão seus dias analisando balanços, fazendo dinâmicas de grupo e tomando importantes decisões. Isso acontecerá sim, mas em ocasiões específicas. O restante do tempo, possivelmente terão que pôr a mão na massa, e dar uma forcinha ao DP, ao Contas a Pagar e Receber e as vezes, até ao extraoficial “Departamento de Assuntos Pessoais dos Sócios da PME”.

A verdade é que levei bastante tempo, até entender e adaptar a gestão de grandes empresas aprendida na faculdade, à gestão da pequena empresa em que trabalhava.  Tempo esse, que os profissionais e as PMEs já não têm hoje em dia.  A pequena empresa atual está inserida num ambiente competitivo e hostil, onde ter uma boa gestão o mais rápido possível, pode fazer a diferença entre continuar ou fechar as portas.

Acredito que a maioria das universidades e autores de gestão empresarial, já estejam adequando seus temas e grades curriculares, para o ensino da Gestão de Micro e Pequenas Empresas.

O Brasil precisa da força dessas empresas, para sair da crise e voltar a gerar empregos. Não dá mais para esperar os muitos anos que levei até adaptar o meu “Aprender Grande em Aplicar Pequeno”.

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