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Seria a Evergrande o próximo Lehman Brothers?

Gigante da incorporação de negócios imobiliários foi manchete de todos os jornais e de todas as mídias depois de derrubar Bolsas de Valores no mundo inteiro devido ao risco de falência.

24/09/2021 13:30:01

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Seria a Evergrande o próximo Lehman Brothers?

Seria a Evergrande o próximo Lehman Brothers? Foto de Anna Nekrashevich no Pexels

O mundo econômico descobriu a gigante da incorporação de negócios imobiliários Evergrande. A empresa chinesa foi manchete de todos os jornais e de todas as mídias depois de derrubar Bolsas de Valores no mundo inteiro, graças ao risco de falência. Foi chamada, inclusive de “Leman Brother asiática”, dado o risco de influenciar todo o mercado financeiro mundial.

Para entender o processo, é importante voltar à formação do grupo e como o mercado imobiliário chinês foi formado. Até 1988, todas as terras com potencial de incorporação pertenciam ao Estado daquele país. Não havia propriedade privada em real state, nem mesmo nenhum tipo de concessão.

Foi quando o governo percebeu que necessitava, dado o novo status que a China vinha alcançando, de incentivar o mercado, até para que o próprio governo conseguisse recurso para financiar o desenvolvimento de imóveis. Assim, a partir daquele mesmo ano, em uma mudança na constituição, o governo permitiu que as terras fossem concedidas por 70 anos, para uso pessoal, e 50 anos, para uso comercial.

Para se ter uma ideia da importância da mudança, podemos citar que, mesmo que ninguém imaginasse que o governo pediria as terras de volta, acumulou 22 trilhões de iuanes vendendo terras, de 2009 a 2015 – aproximadamente US$ 3 trilhões.

Contudo, o impulso para o setor privado veio mesmo em 1998. Até então, os imóveis eram cedidos pelos empregadores estatais. Apesar de nenhum incentivo ao desenvolvimento imobiliário até então, no mesmo ano, o governo desobrigou os empregadores a ceder casas aos empregados. Dá para imaginar o tamanho do mercado que isso criou. A partir do nada, a população chinesa estava disposta a comprar casas e ter moradia. Na transição, o governo deu muito subsídio e ajuda para as pessoas comprarem suas casas.

Este era o cenário em 1998: um mercado quase ilimitado, com pessoas ávidas por residências e injeção de trilhões no setor. Surge uma demanda brutal por real state como nunca se havia visto no mundo. Assim se consolida a Evergrande, nascida em 1996, com uma proposta muito sólida: casas em escala e baratas – tanto que, na China, era conhecida como o “McDonald’s dos imóveis”.

Em 2009, já gigantesca, fez seu IPO (oferta pública inicial) e arrecadou mais de US$ 700 milhões. Dez anos depois, já tinha praticamente dobrado o número de terra prontas para construção. E aí vale analisar o cenário do país para entender como a empresa foi incentivada a se endividar e crescer o mais rápido possível.

Por muito tempo, os plenários e as reuniões quinquenais do Partido Comunista Chinês consideravam construção civil e indústria de base os principais setores que deveriam alavancar o crescimento econômico. Nesta estrutura, estes setores receberam aportes descomunais de capital.

Além disso, após as crises de 2001 e 2008, o banco central chinês aplicou uma política monetária fortemente expansionista, facilitando a tomada de crédito por consumidores e empresas. Assim, ao ver seu mercado em franco crescimento e com taxas de juros bem atrativas, a empresa foi se endividando para conseguir absorver toda a demanda.

Com a mudança estratégica do governo, que começou a direcionar a economia para semicondutores e nanotecnologia, a companhia começou a sentir problemas – em uma dívida que claramente estava maior do que deveria.

Nesse momento, a Evergrande já se sentia muito grande para quebrar: o setor imobiliário passou de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), em 1995, para 13% em 2009, sendo a empresa a segunda maior do país.

O risco moral envolvido – “O governo não deixará quebrar” – deu mais confiança para ousar na hora de aumentar a alavancagem do grupo. Entretanto, eis aí o grande erro: num movimento claro de temor de grandes falências, o regulador chinês exigiu que os bancos fizessem teste de estresse em empresas com grandes dívidas.

A Evergrande, com um dívida total de mais de U$ 300 bilhões, deu sinais de fadiga e de quem tinha “esticado demais a corda”. Tal fato vazou, alertando bancos e entidades medidoras de risco ao redor do globo. Começa, então, a decadência do valor de mercado da grande incorporadora chinesa. Para se ter uma ideia, atualmente, o faturamento anual da empresa não passa de US$ 100 bilhões, com dívidas de curto prazo de mais de US$ 50 bilhões.

A grande questão é: caso a Evergrande quebre, o mundo será impactado como foi no caso do banco Lehman brothers? A primeira resposta é paliativa: provavelmente não, pelo menos na mesma intensidade, pois a empresa não é uma instituição financeira, diminuindo a exposição a derivativos de dívidas.

No entanto, estamos longe de garantir serenidade ao mercado, uma vez que existem algumas razões preocupantes: primeiro, há risco de gerar problemas em bancos sediados em Hong Kong – pelo menos quatro estão expostos à construtora.

Além disso, o fato deve gerar mais desconfiança em relação ao já combalido crescimento chinês, além de uma mudança de visão dos investidores estrangeiros em relação ao país, que já os trata mal.

A perspectiva é que o governo daquele país faça algo para ajudar a empresa, que já representa mais de 2% do PIB da China. Isso salvaria o pior, mas não apagaria a dúvida: o milagre chinês está com os dias contados?

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