Os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Banco Central (Bacen) apontam o que deve ser o panorama geral de 2022: um primeiro semestre muito melhor do que o esperado – e um segundo semestre mais desafiador.
Não há dúvidas de que os seis primeiros meses se saíram melhores do que o previsto pelos economistas. Os números do IBC-Br de julho, primeiro mês da segunda metade do ano, reforçam a tese.
O índice, que tenta projetar as variações mensais do Produto Interno Bruto (PIB), registrou crescimentos de 1,17%, em comparação a junho, e (o mais relevante) de 3,87%, em relação a julho de 2021.
Diante destes dados, se não houver mais nenhum incremento marginal do IBC-Br, o aumento do ano já chega a 2,6%. É válido lembrar que, no fim do ano passado, as previsões para o PIB estavam próximas a 0,5%, logo, o resultado é extraordinariamente bom.
O conjunto de informações que dispomos, até julho deste ano, nos revelam um avanço concentrado dos serviços. Nesse período, a indústria (-2%) e o varejo (-0,8%) caíram, enquanto os serviços cresceram (8,5%). Este cenário corrobora o que defendemos aqui, desde o primeiro trimestre: há uma mudança clara no padrão de consumo do varejo – principalmente de bens de consumo duráveis, como móveis e eletrodomésticos (-14,6%), veículos (-8,5%) e materiais de construção (-13,7%) – para os serviços, setor muito reprimido durante a pandemia, que indicou elevação de 6,3%, em julho de 2022, em comparação ao mesmo mês do ano passado, de acordo com o IBGE.
Nesta seara, os serviços prestados a famílias e empresas se ampliaram. Os eventos, suspensos durante uma crise de saúde pública, voltaram com força total, assim como a demanda do turismo. Ademais, os bons resultados observados nos transportes foram beneficiados pelo escoamento da safra.
A partir de agora, três novos fatores podem influenciar toda a conjuntura. O primeiro: a normalização dos serviços, com diminuição das feiras e convenções por algum tempo. O segundo: a queda significativa da poupança, adquirida durante a quarentena, demandando mais renda – aqui, é importante ter em mente que a antecipação do décimo terceiro salário e a liberação do FGTS já fizeram a sua parte.
E, por fim, o terceiro: a inadimplência, que já atinge quase 30% das famílias paulistanas – e, muito provavelmente, de todo o País –, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Sendo assim, o comprometimento dos recursos com dívidas está chegando ao seu limite, e isso deve drenar o consumo dos lares brasileiros. Por outro lado, a redução da inflação, o Auxílio Brasil e um crescimento dos empregos devem apaziguar o panorama geral.
O convencimento, pelo governo, do setor privado a investir é o que vai definir o caminho que seguiremos. As reformas realizadas nos últimos anos já proporcionaram um mercado de trabalho mais reativo e uma Previdência mais sustentável, mas, agora, novas (e urgentes) reformas são necessárias. Além disso, é importante que o governo garanta uma regra de teto que transmita, ao mesmo setor privado, o seu compromisso com a responsabilidade fiscal.
Estes são os pontos definitivos para a nossa economia engatar um desenvolvimento mais sustentável, a despeito do contexto internacional não muito favorável.