Bom dia Vanilson,
Ao que me parece a proposta do Contabilizei e do Conta Azul são absolutamente diferentes. Enquanto a primeira oferece "contabilidade" a segunda oferece gestão financeira. Enquanto a primeira tira o contador da história, a segunda apoia o contador.
Quanto a questão de "escalonar" o serviço contábil, não tem novidade nenhuma na coisa. O serviço contábil é, sempre foi, e tende a continuar sendo escalonável. Contabilidade, deste ponto de vista, é e sempre foi um bom negócio. O que torna a contabilidade difícil é a responsabilidade enorme que esse escalonamento trás consigo e as dificuldades inerentes a profissão.
O que eu não concordo, e não posso concordar, é com a busca pela escala a qualquer custo. Antes de qualquer coisa é preciso ter consciência que a contabilidade é uma atividade intelectual, escalonar atividade intelectual não é tão simples. Outras profissões preveem claramente a vedação à "mercantilização" da profissão, isto é, transformar a atividade intelectual em produto e "vendê-la" desta forma.
O xis da questão é o trabalho do CFC/CRCs neste sentido. O Conselho fica em cima do muro e não pensa nas questões da contabilidade que afetam a relação do contador com a sociedade, vivem no mundo de uma "Teoria Pura da Contabilidade" e esquecem que a contabilidade, como ciência social que é, se relaciona diretamente com a sociedade, e é aí que o Conselho precisa atuar, inclusive, com todas as distorções que essa relação pode provocar à pureza da ciência.
De toda forma, a Contabilidade possui um Código de Ética, que entre outras coisas estabelece: (1) a confiança do cliente é condição fundamental para ao exercício das funções do contador, (2) solidariedade aos movimentos de defesa da dignidade profissional propugnando remuneração condigna, (3) o preço deve ser calculado levando em conta: relevância, vulto e complexidade; tempo consumido; peculiaridades, entre outros - coisa que um serviço com preço pré-fixado e escalonado de qualquer forma não cumpre, (4) é vedado oferecer ou disputar serviços profissionais mediante aviltamento de honorários; (4) executar os serviços observando os Princípios de Contabilidade e as Normas Brasileiras de Contabilidade, entre inúmeros outros. E entre outras inúmeras questões, as Normas Brasileiras de Contabilidade pressupõem a contabilização com base em documentos originais, admitindo-se a digitalização apenas mediante assinatura digital, via certificado digital, do contador e da empresa e ainda que o livro diário deve ser levado a registro no órgão competente.
Como eu falei antes, não vejo problemas no serviço de contabilidade ser prestado de forma escalonável, mais barato e nem de qualquer outro jeito, desde que atendidos os pressupostos éticos da profissão. Caso contrário, além de concorrência desleal, é ilegal por si só e deve ser fiscalizado pelo Conselho.
De toda forma, o que de fato me preocupa, é a imagem da profissão em relação a isto, não a concorrência. Não são meus concorrente. Não acho que este serviço seja "o futuro". Acho que é um nicho, existe muita gente que só quer saber de preço. Acho que vai elevar o nível do mercado, na medida que quem só quer preço vai para esses serviços virtuais, e o contador que só faz guias de tributos e contracheques não vai ter como competir e vai sair do mercado.
O meu problema é só a imagem do profissão, seja com um serviço enlatado, seja com profissionais que vendem contabilidade e não entregam contabilidade. O resto é escolha...
Por exemplo: Aqui no escritório, o mês encerra e recebemos a documentação para contabilizar, apurar impostos e tudo mais, no início do mês subsequente, quando enviamos os tributos, já enviamos juntamente a contabilidade do mês, fechamos o balanço mensalmente. Quando não vai junto com o tributo, vai até o final do mês no máximo. Aliás, fazemos o contrato prevendo o levantamento do balanço mensal. Nos primeiros meses apresentamos o balanço ao cliente detalhadamente, o ensinando a entender um balanço, e mandamos junto ao Balanço, caso seja do interesse do cliente, mandamos os principais índices gerenciais. Orientamos quanto às normas de DP, auxiliando na elaboração de um Regulamento Interno e controle de Advertência e Suspensões, dentre outras questões de DP; Mantemos o cliente informado sobre atualizações da legislação em geral, como fiscais e extrafiscais, municipais, estaduais, federais, do consumidor, trabalhistas, etc.; Cobramos o cliente quando percebemos erros ou omissões; visitamos o cliente pelo menos 1 vez por mês (um dos sócios); atendemos consultas de forma ilimitada; caso o cliente precise pode vir aqui sem agendar; trabalhamos com acesso remoto para orientar questões de como notas fiscais eletrônicas e outros sistemas; oferecemos treinamentos específicos que possam facilitar a relação cliente-escritórios; orientamos, explicamos e efetuamos pagamentos de rescisões; além de haver muitas questões que, na prática, não tem como ser solucionadas por telefones e e-mails... enfim, abraçamos o cliente em quase todas as circunstâncias.
Um serviço enlatado nunca poderia oferecer estas coisas, como eu nunca poderia oferecer os preços praticados por eles. Aí vai do cliente, o que o cliente quer de fato? Não são serviços concorrentes...
Não acredito que a opção dos serviços enlatados seja o futuro, nem mesmo para as novas gerações de empreendedores, a burrocracia do Brasil, a complexidade do sistema tributário - obrigações fiscais e para-fiscais, além das atualizações enlouquecedoras de outras normas ligadas às empresas, vão demandar cada vez mais a orientação mais profunda e próxima do Cliente e do Contador, especialmente para o empreendedor. Mas haverá sempre este ou nicho...
Desculpe ser tão extenso pessoal, forte abraço.