Eles ressaltam, no entanto, que o FGTS é uma poupança do trabalhador e, por isso, devem ter cuidado em como vão comprometer esse dinheiro.
Para o consultor financeiro do Mercantil do Brasil, Carlos Eduardo Costa, quem tiver saldo disponível para o saque não tem motivo para deixar de resgatar o dinheiro, mesmo com a promessa de maior rentabilidade do FGTS feita pelo governo com a divisão do lucro obtido com os investimentos feitos pelo fundo.
“A vantagem de fazer a retirada da conta inativa é que há muitas aplicações disponíveis, e o investidor pode ser o juiz de seu próprio dinheiro”, comenta.
Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e da DSOP Educação Financeira, lembra que a possibilidade de saque do FGTS será mais um ganho extra do brasileiro, mas não é a "salvação" de quem estiver com o orçamento apertado.
“Se não tiver cuidado, os resultados serão os mesmo de vários outros valores que os brasileiros recebem, como restituição de imposto de renda, sendo direcionado apenas ao consumo ou ao combate do efeito do endividamento e não das causas”, diz.
Para ele, o trabalhador deve planejar como usar esse dinheiro inesperado. "Não é porque é uma verba inesperada que deve ser gasta desordenadamente", afirmou.
Os especialistas recomendam que pessoas que estão inadimplentes usem seus recursos para quitar ou renegociar suas dívidas. “Se você se desorganizou com dívidas, o dinheiro do FGTS pode ser utilizado para uma renegociação que dará uma folga no seu orçamento. No caso de dívidas no cheque especial ou em cartão de crédito, tente o mais rápido possível quitá-las, pois elas possuem os juros mais altos do mercado”, diz o consultor de relação de consumo e advogado de direito do consumidor Dori Boucault.
Segundo ele, negociar com as instituições credoras, com dinheiro na mão, faz o abatimento ser maior. Boucault ainda lembra que é muito importante que não se aceite a oferta inicial feita na renegociação. “Não aceite a primeira proposta. Veja se é possível liquidar ou parcelar em valores fixos para você ter o controle da situação”, diz.
Muitas vezes, segundo ele, o valor recebido do FGTS não será suficiente para a quitação das dívidas, por isso ele não recomenda fazer grandes empréstimos. “Se fizer isso você trocará seis por meia dúzia ou ficará em uma situação pior. Uma das opções para completar o pagamento, desde que não seja a longo prazo, é o empréstimo consignado, que porta juros bem menores em relação ao cartão de credito ou cheque especial”, completa o especialista.
Já as pessoas que têm dívidas, mas estão com as contas em dia, Domingos diz que nem sempre vale a pena usar o dinheiro para pagar dívidas. Quando o endividamento estiver controlado, como é o caso de quem tem parcelamentos em dia da casa própria, veículos, ou para crediários, esse dinheiro pode ser utilizado para iniciar o planejamento de um sonho.
“Os brasileiros precisam aprender a lidar com o dinheiro de forma sustentável, para que consigam alcançar seus objetivos ao longo da vida com segurança financeira”, diz.
Antecipação do dinheiro
Alguns bancos como o Santander estão antecipando o dinheiro do FGTS para os correntistas, mas essa antecipação envolve cobrança de juros. Por isso, especialistas recomendam que os contribuintes só peçam a antecipação se estiverem realmente precisando do dinheiro para pagar uma despesa urgente ou para pagamento de dívidas com cheque especial e cartões de crédito, que têm juros mais altos que outras linhas de crédito.
Reserva para emergências
Dori diz que se a pessoa estiver com as contas no azul, pode usar o FGTS para fazer uma reserva de emergência. O cenário econômico é ainda de incerteza e a função primordial do FGTS é justamente ser uma poupança do trabalhador para tempos difíceis.
Essa reserva, segundo ele, servirá de auxilio, caso o trabalhador seja demitido ou passe por problemas financeiros. “Aplique o dinheiro em algo com muita liquidez, como poupança ou outro que tenha a liquidez rápida", aconselha.
Reserva de longo prazo
Outra forma de utilização da renda extra é aplicar o valor com objetivo de criar uma reserva de longo prazo. “Coloque a aplicação em título de renda fixa que garante ganhos acima da poupança. Existem diversas opções no mercado. Converse com gerentes ou funcionários para buscar taxas de administração vantajosas”, diz Boucault.
O FGTS rende 3% ao ano mais a taxa referencial (TR), enquanto a poupança rende 6,17% ao ano mais a TR. Em 2016, o rendimento financeiro da poupança foi de 8,3%. Já o do FGTS foi de 5,01%, abaixo da inflação oficial de 2016, que foi de 6,29%.
Entre janeiro de 2000 e dezembro de 2016, o FGTS acumulou um retorno de 120,63%. No mesmo período, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) corroeu esses ganhos ao avançar 200,63%.
Quem tinha R$ 1 mil aplicados no FGTS em janeiro de 2016 terminou o ano com R$ 1.050,10. Se tivesse deixado este mesmo valor na poupança, teria acumulado R$ 1.083. Esse mesmo montante aplicado no Ibovespa, índice de ações da bolsa paulista, teria se convertido em R$ 1.389,39.
Imóveis
Se a intenção é comprar imóvel, Boucault diz que é preciso pensar sobre o assunto para não entrar em uma dívida de longo prazo. "Tenha consciência de que, se estiver empregado, existe o risco de perder o emprego e não terá uma reserva. Para a compra de um imóvel recomendo que se tenha uma estabilidade financeira ou um emprego que não apresente riscos”, alerta.
O FGTS também pode ser utilizado para pagar prestações ou quitar um imóvel. O uso desse fundo pode ser uma boa saída, desde que obedeça aos limites e não os ultrapasse.
Outro caminho é utilizar o FGTS para construir, reformar ou ampliar o imóvel. “Procure saber as linhas de crédito e os instrumentos necessários. Com isso você pode usar esse valor para melhorar o imóvel existente”, orienta.
Regras para o saque
O saque do dinheiro do FGTS inativo pode ser feito por quem tem saldo em uma conta inativa até 31 de dezembro de 2015. Uma conta fica inativa quando deixa de receber depósitos da empresa devido à extinção ou rescisão do contrato de trabalho. O trabalhador deve estar afastado do emprego pelo menos desde o fim de 2015.
O trabalhador, no entanto, não pode sacar o FGTS de uma conta ativa, ou seja, que ainda receba depósitos pelo empregador atual.
Mais da metade dos trabalhadores (56%) tem, no máximo, R$ 500 para sacar, segundo o governo. Outros 24% têm saldo entre R$ 500 e R$ 1.500. Os dois grupos representam 80% do total de pessoas com direito a sacar o dinheiro. Os demais têm mais de R$ 1.500 a receber.
Fonte: G1