O uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para quitar ou amortizar a carta de consórcio imobiliário está em alta. Desde 2010, quando a lei autorizou esse tipo de operação, 5.641 trabalhadores recorreram a quase R$ 100 milhões de suas contas vinculadas do Fundo para esta finalidade. O dinheiro também pode ser utilizado para dar um lance e conseguir a carta de crédito mais rápido para comprar um imóvel. Mas o cotista deve seguir as regras do Conselho Curador do FGTS para contar com este recurso. Entre elas, que o valor do imóvel não ultrapasse R$ 500 mil.
Segundo dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), o número de participantes de consórcio de imóveis subiu 8,5% em fevereiro, em relação ao mesmo mês de 2011, passando de 585 mil para 635 mil. Já a venda de novas cotas registrou uma retração de 18,6% no primeiro bimestre de 2012, na comparação com igual período no ano passado. O motivo, de acordo com o presidente da entidade, Paulo Roberto Rossi, são os gastos de início de ano com o pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), matrícula escolar, resquícios das compras de fim de ano, entre outros.
"Normalmente, o brasileiro coloca o pé no freio no início do ano com medo de não conseguir quitar todas suas dívidas. Essa retração é comum no primeiro bimestre. Mas percebemos que fechamos o ano sempre em alta, porque nos outros meses a venda de cotas aumenta", comenta.
Rossi acredita que para quem quer planejar a compra do imóvel, o consórcio é a melhor opção. "É uma forma de guardar o dinheiro por um período sem a possibilidade de fazer um saque, como no caso da poupança, por exemplo. E, se contemplado, a carta de crédito dá mais poder de barganha na compra de um imóvel, já que ela é considerada como pagamento à vista."
Foi pensando neste planejamento que o técnico de informática Daniel Alcosorado Pereira, de 27 anos, e sua noiva, a analista de sistemas Bruna Santos, de 25 anos, optaram por comprar uma cota de consórcio para guardar dinheiro e comprar um imóvel. Eles querem casar daqui a três anos. "Não valia a pena entrar em um financiamento agora, porque já teríamos a casa e não conseguiríamos fazer outras coisas que queremos realizar antes do casamento.
Então, resolvemos guardar o dinheiro para termos recursos para dar uma boa entrada ou comprar um imóvel à vista (ao ser sorteado)", diz Pereira.
O técnico também ressalta que a falta de conhecimento sobre outros investimentos financeiros motivou o casal a optar pelo consórcio. "Contratamos uma consultoria que cuida de tudo para nós. Então temos mais segurança." O casal fez um plano de 25 anos e paga parcelas fixas de R$ 900, corrigidas pelo Índice Nacional de Custos da Construção Civil (INCC).
Para o diretor da DeltaClick, empresa especializada em consórcios, Marcos Medeiros, o fato de as parcelas serem fixas dá mais segurança para o cotista. "Eles sabem que vão pagar o mesmo valor até o fim do plano, com uma pequena correção anual. O que não ocorre no financiamento já que, no início, o contratante pagará parcelas mais altas, por conta da amortização progressiva do débito", diz.
O diretor se refere ao Sistema de Amortização Constante (SAC), no qual o mutuário começa a pagar parcelas mais altas e termina o financiamento com valores menores.
O economista e matemático José Dutra Vieira Sobrinho acredita que o consórcio só é vantajoso para os cotistas contemplados no início do plano, que têm ainda cerca de 75% das prestações a pagar. Para o restante, na sua opinião, sairia mais barato investir a quantia reservada ao pagamento das cotas na caderneta de poupança por período equivalente à espera pela carta de crédito e, depois, utilizar o montante como entrada de um financiamento imobiliário. "Os poupadores têm o mesmo poder de barganha para dar entrada em um imóvel que os cotistas."
Dutra simulou dois casos: de um cotista contemplado na primeira assembleia de um consórcio, com uma carta de crédito de R$ 100 mil, e de um outro consumidor que não tinha nenhum dinheiro e recorreu ao financiamento imobiliário pelo sistema Price (também de parcelas fixas) para obter o mesmo valor.
Ambos vão pagar o crédito em 120 parcelas. A diferença, segundo Dutra, é que as mensalidades do consórcio serão corrigidas pelo INCC (que vem atingindo taxa de 5% ao ano), enquanto as do financiamento são corrigidas pela TR (no máximo de 1% ao ano). "No final do prazo, as parcelas do consórcio ficarão mais caras do que as do financiamento, devido à atualização das parcelas".
Fonte: Estadão.com