A contabilidade brasileira atravessa um momento de profunda transformação impulsionado pela Reforma Tributária do consumo, que começa a vigorar em 2026, e pela expansão do uso de tecnologias baseadas em automação e inteligência artificial. O cenário indica uma reconfiguração do papel do contador, que passa a atuar de forma mais consultiva e estratégica, com foco em resultados e não apenas em conformidade fiscal.
Especialistas apontam que o próximo biênio representará um marco de mudança para o setor. Com novas exigências tributárias, digitalização acelerada e mudanças na estrutura das empresas, os escritórios contábeis terão de ajustar seus modelos de atuação para atender à nova realidade do mercado.
1. O contador consultivo se consolida como padrão de mercado
O modelo de contabilidade consultiva, antes visto como tendência, tornou-se essencial. Com a complexidade fiscal crescente e a necessidade de orientação estratégica por parte dos empresários, o profissional contábil é cada vez mais requisitado para interpretar indicadores financeiros, margens e rentabilidade, indo além do cumprimento de obrigações acessórias.
A expectativa é que, até 2026, a demanda por contadores capazes de oferecer diagnósticos e soluções personalizadas cresça de forma significativa, impulsionada pela busca por eficiência e sustentabilidade financeira nas empresas.
2. Reforma Tributária redefine o papel estratégico da contabilidade
Aprovada em 2023 e em fase de implementação, a Reforma Tributária representa a maior mudança estrutural da contabilidade brasileira em décadas. Com a substituição de tributos e a adoção do modelo de Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), as empresas precisarão reavaliar seus regimes tributários, revisar preços e fortalecer o controle financeiro.
O contador passa a ser figura central nesse processo de transição. O apoio técnico será essencial para adequar operações, identificar impactos fiscais e garantir conformidade durante o período de adaptação.
3. BPO Financeiro se expande como fonte de receita e fidelização
O avanço do modelo de apuração não cumulativa e a necessidade de controle financeiro detalhado impulsionam o crescimento do BPO Financeiro (Business Process Outsourcing). A tendência é que o serviço deixe de ser um diferencial competitivo e se torne parte da oferta padrão dos escritórios contábeis.
Além de agregar valor ao atendimento, o BPO contribui para a fidelização dos clientes, aumenta a previsibilidade de receitas e melhora o desempenho financeiro das empresas. Essa prática também reforça o papel estratégico do contador na gestão empresarial.
4. Customer Success chega à contabilidade como diferencial competitivo
A aplicação de metodologias de Customer Success (Sucesso do Cliente) ganha espaço nos escritórios contábeis que buscam ampliar a retenção e a satisfação dos clientes. O modelo prioriza o acompanhamento contínuo dos resultados e a comunicação proativa, fortalecendo a percepção de valor do serviço prestado.
Empresas que estruturam esse tipo de atendimento conseguem reduzir cancelamentos e aprimorar o relacionamento com o cliente, criando uma base sólida para crescimento sustentável.
5. Ecossistema contábil: integração de soluções e ampliação de serviços
A expansão do conceito de “ecossistema contábil” redefine o escopo de atuação dos profissionais. Escritórios passam a oferecer ou intermediar serviços complementares, como certificação digital, registro de marca, recuperação tributária, produtos financeiros e consultorias especializadas.
Essa diversificação amplia o ticket médio dos clientes e consolida o contador como parceiro estratégico dos empresários, capaz de centralizar soluções e agregar conveniência e segurança às operações.
6. Automação e inteligência artificial transformam o operacional
A incorporação de ferramentas de automação e inteligência artificial (IA) está eliminando tarefas repetitivas e otimizando processos contábeis. Classificação de lançamentos, conciliação bancária e atendimento básico já podem ser automatizados, permitindo que os profissionais concentrem esforços em atividades analíticas e consultivas.
O uso da IA não substitui o contador, mas redefine sua atuação. Escritórios que adotam tecnologia de forma estratégica tendem a ganhar eficiência, reduzir custos e ampliar a capacidade de atendimento.
7. Pejotização ganha força e exige atenção técnica
Com as novas regras de tributação sobre a folha de pagamento e a ausência de crédito fiscal nessa modalidade, cresce a tendência de empresas migrarem para modelos de contratação por pessoa jurídica (PJ). Essa pejotização em massa requer atuação técnica rigorosa dos contadores, especialmente no que se refere à avaliação de riscos trabalhistas e societários.
Profissionais que dominam aspectos legais e estruturais dessa transição terão oportunidade de expandir seus serviços e atender uma nova demanda de mercado.
8. Lucro presumido perde força frente à não cumulatividade plena
A implantação do sistema de não cumulatividade plena impactará diretamente o regime de Lucro Presumido. Empresas que antes se beneficiavam da presunção e não aproveitavam créditos tributários precisarão recalcular suas bases e, possivelmente, migrar para o Lucro Real.
O contador terá papel fundamental nesse processo, auxiliando no diagnóstico, simulação e planejamento de transição entre regimes. A mudança exigirá atualização técnica constante e domínio da legislação fiscal.
9. Uma janela histórica de crescimento para o setor contábil
O novo cenário abre uma das maiores oportunidades de crescimento da história da contabilidade brasileira. A combinação entre Reforma Tributária, digitalização e novas demandas empresariais cria espaço para ampliação de receitas, fortalecimento do posicionamento consultivo e expansão de serviços estratégicos.
Escritórios que se adaptarem rapidamente e investirem em tecnologia, capacitação e atendimento consultivo poderão não apenas manter, mas ampliar sua relevância no mercado até 2026.
A contabilidade entra em uma nova fase marcada por desafios e oportunidades. O profissional que compreender o impacto das mudanças regulatórias e adotar uma abordagem mais estratégica e tecnológica terá vantagem competitiva nos próximos anos.
A Reforma Tributária e a digitalização consolidam o contador como peça-chave na tomada de decisões empresariais, reforçando sua importância para a sustentabilidade e o crescimento das organizações no cenário econômico brasileiro.
Com informações do Contabilidade Consultiva - Pedro Nery